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Ao longo desta semana, fortes chuvas causaram transtornos e enchentes no Nordeste brasileiro. Algumas
cidades, que passaram por meses e até anos sem um episódio de chuva forte, registraram raios, altos acumulados e ruas alagadas. Ao mesmo tempo, o Rio Grande do Sul apresenta uma diminuição no volume de chuva. O estado, que sofreu há algumas semanas atrás com fortes tempestades, agora tem um tempo mais estável. O mapa abaixo, com a precipitação acumulada prevista para os próximos 15 dias, mostra que este padrão vai seguir pelas próximas duas semanas:
E aí uma pessoa que acompanha a evolução do tempo e do Clima pode se perguntar: "Mas espere! Estamos sob influência de um forte El Niño, e o efeito dele é causar muita chuva no sul e pouca chuva no Nordeste, não é mesmo?"
Sim, exatamente. Estes são os efeitos clássicos associados a uma situação de El Niño, como a que vivemos agora. Então, como explicar estes próximos 15 dias tão chuvosos no Nordeste e tão secos no Rio Grande do Sul?
Para entender isso, precisamos lembrar que a atmosfera é um sistema altamente complexo, onde vários processos estão ocorrendo ao mesmo tempo, e todos eles influenciando juntos as condições de tempo
de uma região. Estamos vivendo um período de El Niño, mas o Rio Grande do Sul vai sentir a diminuição da chuva nos próximos dias devido ao sinal de uma outra oscilação atmosférica, a Oscilação de Madden-Julian.
A Oscilação de Madden-Julian é uma tendência à formação ou inibição de tempestades no Índico, próximo à Indonésia. Ela ocorre a cada 30-60 dias. Ou seja, em um período, a atividade convectiva está favorecida na região, e no período seguinte, a atividade convectiva está diminuída. Estes padrões se propagam de oeste para leste ao longo do Pacífico. As chuvas associadas a estas tempestades não chegam diretamente aqui no Brasil, mas elas provocam ondas na atmosfera que se propagam e alteram o regime de chuvas aqui no país.
O mapa abaixo mostra a previsão do aumento/diminuição de chuva no Brasil devido à atuação da fase atual da Oscilação de Madden-Julian no Índico. Este mapa foi disponibilizado pela NOAA, a partir dos dados do modelos GEFS. As áreas em amarelo, sobre o sul do Brasil, mostram que a Oscilação vai desfavorecer a ocorrência de chuva no Rio Grande do Sul, enquanto as áreas em azul mostram que o efeito da Oscilação no norte do Sudeste e no Nordeste é favorecer a ocorrência das chuvas.
No Nordeste, ainda há outro fator influenciando o aumento das chuvas: a temperatura da superfície do mar no Atlântico está mais aquecida. O mapa abaixo indica a anomalia de temperatura em relação à média no dia 07/01/2016, e os tons em amarelo indicam água mais quente que a média. Como se pode ver ao longo de toda a costa do Nordeste, a água está mais aquecida, favorecendo a evaporação e aumentando a quantidade de água disponível para "chover" sobre a região, se as condições forem favoráveis.