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O mês de abril de 2020 vem sendo marcado por uma condições de tempo muito instável sobre a Região Nordeste do Brasil. Muitas nuvens carregadas se formaram sobre o interior e pelo litoral de toda a Região. Além de temporais com chuva volumosa, estas nuvens também permitiram a observação de um raro fenômeno elétrico atmosférico: o gigantic jet.
O que é o gigantic jet?
O gigantic jet (GJs, na forma abreviada), ou os jato gigante, é um feixe de luz que sai do topo de nuvens convectivas, do tipo cumulonimbus. A aparência é de raios de baixo para cima, saindo do topo das nuvens.
O gigantic jet, ou jato gigante, é um fenômeno elétrico da alta atmosfera, um tipo raro de Evento Luminoso Transitório (TLE, na sigla em inglês). Ele se inicia como um jato azul partindo de cima de uma nuvem de tempestade (a aproximadamente 20 km de altitude) depois se torna avermelhado. O jato gigante alcança o limite superior da mesosfera (em torno de 95 km de altitude) e sua duração é de alguns milissegundos.
Gigantic jet em 17/4/2020 no interior do RN
O gigantic jet observado e registrado no Nordeste do Brasil na noite de 17 de abril de 2020, pouco depois das 21 horas, ocorreu a partir de nuvens que passavam na região entre os municípios de Caicó e São João do Sabugi, no Rio Grande do Norte. Porém, quem registrou o fenômeno estava em João Pessoa, capital da Paraíba, a cerca de 250 km de onde o fenômeno ocorreu.
O vídeo mostra o fenômeno gigantic jet (jato gigante) que ocorreu na noite de 17/4/2020 no interior do Rio Grande Norte. O autor da captura foi Marcelo Zurita, que é integrante da BRAMON (veja informações no fim da matéria).
Fique atento ao lado esquerdo do vídeo. O flash é muito rápido, mas em seguida você verá em câmera lenta.
Como filmar este tipo de fenômeno?
Para registrar este tipo de fenômeno é preciso alguns equipamentos específicos. Imagens como as do vídeo acima não podem ser feitas com uma câmera de celular e nem com câmeras comuns, de uma filmadora. É preciso conhecer técnicas e treinamento para fazer este tipo de filmagem.
Para capturar a imagem do jato gigante na noite de 17/4/2020 no sul do Rio Grande do Norte, Marcelo Zurita usou uma câmera Samsung SCB 6003 Full HD, com lente: genérica (8 mm). A placa de captura foi do tipo Easycap + DVR.
A imagem capturada pelo satélite GOES 16 em 18/4/2020, às 00h10 (17/4/2020 às 21h10, hora de Brasília) mostra o núcleo de nuvens carregadas do tipo cumulonimbus, na divisa do Rio Grande do Norte com a Paraíba, que gerou o gigantic jet.
Nuvens do tipo cumulonimbus na divisa do RN com a PB, na noite de 17/4/2020,
que geraram o jato gigante
Notícias sobre o tempo e o clima
Caçadores de fenômenos especiais
A Climatempo (CT) entrou em contato com Diego Rhamon (DR), integrante da BRAMON (leia sobre isto no fim da matéria) e fez algumas perguntas para saber mais sobre o gigantic jet, este curioso e raro fenômeno elétrico da atmosfera.
CT: O GJ já foi observado alguma outra vez no Brasil? Quando e onde?
DR: Os jatos gigantes (gigantic jets, ou GJs) já foram observados outras vezes no Brasil, sim, nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Paraíba. Em São Paulo foram vistos em 2017 e 2018. Em Mato Grosso, em 2018, 2019 e 2020. Na Paraíba, em 2017 (o primeiro do Brasil, em Campina Grande, registrado por mim), e em 2020, esse (17/4/2020) em questão, e outro hoje (23/4/2020), inclusive!. Os dados do registro de hoje ainda ainda estão sendo colhidos.
CT: Existe alguma condição meteorológica especial que facilite a ocorrência do fenômeno? A altura do topo da nuvem é importante?
DR: Ainda estamos pesquisando quais seriam as condições que podem estar ligadas à eles (GJs). Mas pelo que vimos, parece que a altura do topo é importante. Eles ocorrem com topos mais altos.
CT: É preciso alguma câmera especial para fazer este tipo de filmagem?
DR: Sim, não é qualquer câmera que registra, e não é só apontar que já vai capturar, já que é um evento muito raro.
Nós da BRAMON já pesquisamos e fizemos testes previamente com vários tipos de câmeras e de lentes diferentes.
Quase todas as câmeras que temos são câmeras de vigilância comuns, relativamente baratas, porém os modelos certos. As lentes são mais específicas, mas também não tão caras, e normalmente a gente compra de fora do Brasil. E como essas câmeras são analógicas, ainda precisa de uma placa de captura, que também não é cara, para converter o sinal para digital.
Mas também só isso não basta!. Tem que ter um programa que faça a detecção e a análise das capturas, e é preciso fazer um "treinamento" para isso. Também recomendamos um computador que seja dedicado somente para esse fim, mas não é obrigatório. Nada de outro mundo, mas também não é tão simples.
Na verdade, qualquer pessoa que tenha vontade, um pouco de dinheiro e compromisso com a ciência e a pesquisa pode montar sua estação e contribuir com nossas observações.
Neste outro vídeo preparado por Diego Rhamon, você vai aprender mais sobre jatos gigantes e conhecer outros fenômenos chamados de Eventos Luminosos Transitórios , TLE, na sigla em inglês.
O que é a BRAMON?
BRAMON é a sigla para Brazilian Meteor Observation Network, ou Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros. Qualquer pessoa, física ou jurídica, pode participar da BRAMON para aprender e fazer os experimentos científicos relacionados com a observação astronômica.
O texto a seguir foram retirados do site da BRAMON (http://www.bramonmeteor.org/)
Sobre a BRAMON
A Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros (BRAMON) é uma organização aberta e colaborativa, mantida por voluntários e colaboradores e sem fins lucrativos, cuja missão é desenvolver e operar uma rede para o monitoramento de meteoros, com o objetivo de produzir e fornecer dados científicos à comunidade através da análise de suas capturas, que são realizadas por estações de monitoramento mantidas por seus membros.
Participar da BRAMON é uma ótima oportunidade de contribuir de uma forma simples e prazerosa para a astronomia, coletando dados ou mesmo realizando pesquisas que podem resultar na ampliação de nosso conhecimento sobre a história da formação de nosso Sistema Solar.
Como entrar em contato?
Para um interessado entrar em contato com a BRAMON, basta acessar o site (http://www.bramonmeteor.org/). Lá tem tudo que um potencial operador ou colaborador precisa como informações sobre a BRAMON, formas de contato, como montar uma estação, etc.
Difusão do conhecimento
A rede tem como principal meta a produção e difusão do conhecimento em sua área de atuação, sempre procurando e incentivando o trabalho em parceria com entidades amadoras e profissionais.
Sempre que possível, a BRAMON realiza parcerias para a troca de experiências e dados com pesquisadores e entidades que desejem participar de qualquer pesquisa científica voltada ao estudo de eventos que possam ser capturados pelas estações da rede.
Este conhecimento, por sua vez, deve sempre que possível ser de domínio público