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por Cinthia Leone, do ClimaInfo
Muitas pessoas poderão perguntar “cadê o aquecimento global?” neste final de semana. Isso porque uma nova frente fria deve atingir o Brasil nas próximas horas, deixando o sábado e o domingo com frio acima da média nas Região Sul do país. Neste dia Mundial do Meio Ambiente, vamos explicar porque fazer essa pergunta quando chega uma frente fria não faz sentido – paradoxalmente, o aquecimento global pode gerar frentes frias até mais severas! E a resposta está na diferença entre os conceitos de ‘clima’ e ‘tempo’.
‘Clima’ se refere à média dos estados de tempo (que pode ser frio, quente, úmido, seco) de uma região, continente ou até do planeta. Por exemplo, a cidade de São Paulo tem um clima subtropical, que é em média mais frio que o clima tropical, prevalente no restante do estado, e mais quente que o clima temperado, predominante no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
Tempo, por sua vez, são as condições que vivemos no dia a dia, como frentes frias ou ondas de calor. As frentes frias, por exemplo, dependem de um emaranhado de fenômenos atmosféricos, como a temperatura do ar e a intensidade dos ventos nas regiões onde são formadas. Por essas razões, é um equívoco usar a percepção pessoal para pensar o clima ou as mudanças climáticas. “Da mesma forma que os biólogos usam microscópios e outras ferramentas para observar o mundo micro, invisível aos nossos olhos, os cientistas do clima usam satélites, ferramentas estatísticas e modelos para enxergar os fenômenos que compõem o sistema climático”, explica o geógrafo físico Júlio Chiquetto, estudioso do clima e pós-doutor do Instituto de Estudos Avançados da USP.
Nós criamos o clima que queremos
Por isso, os cientistas preferem falar em ‘mudanças climáticas’ em vez de ‘aquecimento global’, justamente para não gerar confusão. São mudanças que estão afetando o clima do planeta como um todo e que são causadas por mudanças na composição de gases que formam a atmosfera ao redor da Terra. O IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), que reúne os maiores especialistas no mundo sobre o assunto, prevê que se as emissões de determinados gases não forem reduzidas, haverá uma mudança no clima, com previsão de ocorrência mais frequente de eventos extremos – secas prolongadas, tempestades torrenciais, nevascas intensas.
Esses gases são chamados de gases de efeito estufa porque eles agem como um cobertor, retendo o calor no planeta. Muitos deles fazem parte do nosso dia a dia: é o caso do gás carbônico, emitido pelo escapamento de carros, caminhões e ônibus que usam gasolina e diesel. Ou o metano emitido pelas centenas de cabeças de gado criados Brasil afora. Ou ainda pelo desmatamento. É por isso que a ciência recomenda usar mais energias limpas e reduzir a destruição das florestas.
O gelo que derrete na Groenlândia e nos polos está elevando o nível do mar,
afetando cidades costeiras
Muitas regiões mais frias já vêm aquecendo com mais intensidade desde os anos 80. Isso levou, por exemplo, ao aumento da área agricultável em regiões como a Sibéria e ao início do cultivo de cereais na Groenlândia. Isso pode até parecer algo bom, mas o gelo que derrete na Groenlândia e nos polos está elevando o nível do mar, afetando cidades costeiras em todo o mundo. Em algumas ilhas no Pacífico as pessoas tiveram que ir embora porque o mar invadiu tudo. As cidades que se abastecem com água vinda de geleiras - como é o caso de La Paz, na Bolívia - podem ficar sem água em alguns anos, se todas as geleiras derreterem. Em regiões de clima mais quente, os efeitos das mudanças climáticas podem torná-las inabitáveis, com maior frequência de eventos de secas, associadas a ondas de calor.
“A modificação da distribuição das chuvas em regiões tropicais certamente trará novos desafios para a manutenção da vida e do equilíbrio ecológico”, diz Chiquetto.