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Autoria: Tatiane Matheus
A organização não-governamental Revolusolar está criando a primeira cooperativa de energia solar distribuída na favela da Babilônia, no Rio De Janeiro. Além de ajudar na retomada após a pandemia da Covid-19 através da transição energética, a ação traz benefícios ambientais, sociais e econômicos à comunidade com capacitação profissional e criação de empregos. De acordo com a instituição, o projeto pode ser replicado em outras regiões.
Trinta famílias participarão do projeto-piloto. Serão instaladas placas fotovoltaicas e a previsão é trazer uma economia de R$ 34 mil ao ano para os participantes, o que representará entre 50% a 60% da redução das contas de energia por residência. Segundo o diretor executivo da Revolusolar, Eduardo Avila, o objetivo é atender mais famílias mesmo que cada uma tivesse uma redução menor, no geral, a economia pode ser de até 95%.
O projeto levou Ávila a se tornar um dos finalistas da América Latina e Caribe do prêmio Young Champions on Earth (Jovens Campeões da Terra), concedido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). A competição global, que teve mais de 845 inscritos, busca identificar, apoiar e estimular jovens empreendedores com idade entre 18 e 30 anos por iniciativas para enfrentar a crise climática.
Avila explica que a Revolusolar conseguiu algumas parcerias e vai fazer uma campanha de financiamento coletivo ainda em julho para buscar o restante do valor necessário para a realização do projeto. O prazo estipulado é de três ou quatro meses para iniciar a cooperativa, que terá os primeiros resultados tangíveis ainda em 2020. “A capacitação dos instaladores, que são moradores da favela, já estava acontecendo antes da pandemia. Quando puderem voltar com segurança às atividades, serão mais dois meses de estudos para completá-la”, informa Avila. A meta é que a retomada seja ainda neste mês de agosto.
O corretor de imóveis, que vive na comunidade, Adriano Paraíso da Silva explica que muitos moradores recebem contas altas de luz e até multas da concessionária por supostos “gatos” (furto de energia) sem que tenham sido checadas adequadamente. Os profissionais que fazer a marcação do consumo não entram na favela e o valor é calculado por uma cotação. Outro problema é que existem moradores que, de fato, “fazem gato”. Silva analisa que a energia solar na comunidade vai baixar o valor das contas de luz e permite que os moradores que estão na ilegalidade possam resolver o problema e ainda destaca a importância das capacitações para os jovens da favela.
O modelo de negócios da cooperativa é o de geração compartilhada, ou seja, um grupo de pessoas irá compartilhar os créditos originados a partir de uma usina de geração de energia. Os moradores não terão que pagar o investimento da instalação das placas fotovoltaicas, mas contribuir, mensalmente, à cooperativa um valor equivalente a metade da quantia economizada. Os créditos da energia gerada serão divididos entre os cooperados. Ávila explica que, por exemplo, se o cooperado recebeu R$ 200 em créditos (reduzidos da sua conta de luz), R$ 100 irá para esse fundo comunitário. O pagamento é usado para remunerar os trabalhadores e para financiar ou acumular recursos para a usina da comunidade.
Desde o início do projeto foram mais de 30 profissionais capacitados ou em processo de formação. Além de fazerem instalações dentro da comunidade, alguns deles foram contratados por empresas de energia solar. A ONG atua no local desde 2015, quando empreendedores e lideranças comunitárias realizaram os primeiros cursos; oficinas de conscientização em sustentabilidade e meio ambiente com crianças; além de atividades de pesquisas e eventos sobre o tema. Foram instaladas placas fotovoltaicas em três locais da favela. A economia nas contas de luz ajudou a Escolinha Tia Percilia, referência educacional, que atravessa dificuldades financeiras. O Morro do Leme, composto pelas favelas da Babilônia e Chapéu Mangueira, é reconhecida como um lugar favorável para desenvolver projetos-piloto inovadores. A insolação do local é privilegiada. Segundo os cálculos da Revolusolar, o potencial técnico de geração supera a demanda energética.
Fonte: Arquivo Revolusolar
Fonte: Arquivo Revolusolar
Favelas têm potencial para serem mais sustentáveis com transição energética
Entre 2012 e 2019, o setor solar fotovoltaico brasileiro gerou mais de 130 mil empregos, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica (Absolar). Segundo dados divulgados pela instituição os principais benefícios são, na esfera sócio econômica, a redução de gastos com energia elétrica para a população; geração de empregos e atração de capital externo e investimentos privados ao País. Para o meio ambiente, a geração de eletricidade limpa, renovável e sustentável não tem emissões de gases estufa; além de não precisar de água para operar — o que alivia a pressão de recursos hídricos escassos. De acordo com a Absolar, a cada R$ 1 investido em geração produzida pelo calor do sol, o retorno é de R$ 3 em benefícios econômicos, sociais e ambientais.
Por sua vez, a tarifa de energia elétrica do estado do Rio de Janeiro é a segunda mais cara do Brasil, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Nos últimos dez anos, a fatura paga pelos cariocas aumentou 105,9%, percentual muito acima da inflação do período, de 71% — o que faz com que a ação seja vantajosa para os moradores da favela.
Desde que a geração compartilhada de energia foi regulamentada pela resolução 482/2012 já foram instaladas mais de 120 mil unidades consumidoras com micro ou minigeração, dessas 98% das conexões foram de fonte solar — que é a mais utilizada na modalidade. Nos últimos anos houve redução de 43% do valor dos painéis solares, que possuem vida útil de 25 anos.
A Rede Favela Sustentável realizou uma “live” nas suas redes sociais sobre o tema “Energia nas favelas é possível?” com especialistas, representantes e líderes comunitários que debateram o uso de energia solar e demonstraram as soluções já existentes no País. Confira: