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Houve um tempo em que a política internacional era dominada pela ameaça de guerra nuclear. Quando os EUA jogaram bombas nucleares sobre as cidade japonesas de Hiroshima e Nagasaki, o mundo compreendeu que se essa tecnologia não fosse controlada em nível internacional, a humanidade poderia não ter um futuro. Países tiveram que fazer acordos de não proliferação de armas de destruição em massa, e os insumos para produção de armamentos desse tipo passaram a ser vigiados de modo permanente por organismos multilaterais.
No século XXI, a percepção de ameaça ao futuro da humanidade mudou. O modelo de desenvolvimento hegemônico não leva em conta os limites do próprio planeta, esgotando os recursos naturais, alterando a superfície e a atmosfera da Terra, eliminando espécies e até culturas humanas que estejam no caminho — um genocídio ampliado que alguns já chamam de ecocídio. Esse jeito predatório e colonial de lidar com a natureza, disseminado principalmente pelo Ocidente, alterou tanto a vida planetária que geólogos discutem se já não estamos em uma nova era geológica: o antropoceno, a “era do homem”, caracterizada principalmente pela extinção em massa das demais espécies que habitam o mundo.
Mas o Homo sapiens é uma espécie que se diferencia pela inteligência e pela consciência. Cada vez mais pessoas percebem que o atual modelo civilizatório terá como resultado a extinção da própria humanidade. E assim como ocorreu com a tecnologia nuclear, a diplomacia está sendo usada como forma de frear a destruição, por meio de negociações, leis e pactos internacionais. Entre eles estão o Acordo de Paris (que estabelece metas de emissão de gases causadores do efeito estufa), o Protocolo de Montreal (que controla a produção de substâncias que destroem a camada de ozônio) e a Agenda 21 (hoje ampliada para Agenda 2030), que foi o principal resultado da Eco-92 realizada no Rio De Janeiro e que estipula a busca pelo desenvolvimento sustentável.
É difícil encontrar alguém que admita ser contra proteger o meio ambiente. Apesar disso, quem defende a natureza enfrenta forte oposição política e corre até risco de morte. Em 2019, o Brasil foi o terceiro país do mundo mais perigoso para ativistas ambientais, com o assassinado de 24 pessoas que defendiam a proteção de ecossistemas, a maior parte delas indígenas da Amazônia, segundo o relatório da Global Witness. Quem promove a degradação e assassinatos de ativistas tenta inverter a lógica - são os ambientalistas os vilões.
Nem sempre é preciso usar violência para destruir a natureza, basta deixar de agir. Amanhã, o Supremo Tribunal Federal fará uma audiência pública sobre uma ação que acusa o governo brasileiro de simplesmente não usar os recursos do Fundo Amazônia, no momento em que a região vive uma crise histórica de desmatamento e queimadas. Uma ação semelhante aguarda decisão da Corte e trata sobre o Fundo Clima, que busca adaptar regiões vulneráveis do país às mudanças climáticas e que teve seus recursos paralisados pelo governo federal sem nenhuma justificativa. Hoje, uma nova ação no STF acusa o governo federal de promover “punição zero” a infratores ambientais. E não só no Brasil, mas no mundo inteiro, o sistema judicial está sendo usado contra governos que não agem para proteger o ambiente e seus cidadãos.
Fonte: iStock
Nem sempre foi assim
O Brasil já teve um papel de protagonismo internacional na área ambiental e costumava cobrar ações para proteger o planeta de países poluidores. A matriz energética brasileira ostenta um percentual de renováveis de dar inveja ao mundo todo, detém o maior percentual da maior floresta tropical do mundo e concentra a maior biodiversidade do planeta. Além disso, já demonstrou ter capacidade de combater o desmatamento e de reconhecer o direito dos povos originários a seus territórios ancestrais e de viverem de acordo com suas culturas..
Hoje o mundo está confuso com a política ambiental brasileira. Dados de satélite, que podem ser checados em tempo real, dizem que o desmatamento está em aceleração, e o governo se limita a dizer que é mentira. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, fala que os países ricos deveriam pagar pela preservação, mas eles já fazem isso — o Fundo Amazônia é mantido pelos governos da Alemanha e da Noruega. Como doar mais dinheiro ao Brasil, se o país decidiu nem usar os recursos que já tem?
Na dúvida, governos, investidores e empresas se afastam, enquanto o medo da “bomba ambiental” brasileira só aumenta. O candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, promete criar um Green Deal (acordo verde) para reconstrução da economia do país. E no campo diplomático, fala em promover sanções contra destruidores da natureza, citando o Brasil. A crise climática já está sendo tratada com seriedade no exterior — resta ao gigante pela própria natureza acordar e perceber que sempre esteve em berço esplêndido nesse tema.
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