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Na Alemanha, só se fala disso: os donos de restaurantes temem por sua existência, a indústria de eventos dá adeus a seu modelo de negócios e artistas e profissionais do setor cultural estão estarrecidos. No esporte, fala-se de uma "catástrofe" e empresas de médio porte já alertam para um "golpe fatal" que atingirá dezenas de milhares de firmas.
É fato que mais de 62% dos alemães consideram o lockdown necessário, segundo uma pesquisa da revista alemã Spiegel. Muitos setores da sociedade, porém, não veem essa necessidade em seu campo de atuação. Isso se explica em parte pelas declarações e informações um tanto contraditórias sobre os locais de infecção nas últimas semanas.
A DW fez uma checagem dos fatos para esclarecer o que se sabe – e o que não se sabe – sobre onde é possível contrair o novo coronavírus.
Onde as pessoas se infectam na Alemanha?
Atualmente, a maioria dos habitantes da Alemanha contrai o coronavírus em espaços privados. De acordo com o Instituto Robert Koch (RKI), a própria residência é o local mais comum de infecção (dados de 27 de outubro). Lares de idosos e casas de repouso, seguidos pelo local de trabalho, também têm um grande peso na transmissão da doença. O índice de infecção é bem menor em espaços de lazer, hoje fortemente afetados pelo lockdown parcial imposto no país.
O número de infecções contabilizado na área médica, como em hospitais ou consultórios, é comparativamente mais controlável, embora ocorra um aumento significativo recentemente. O mesmo ocorre com os centros de educação, ou seja, escolas ou jardins de infância, ou em abrigos para refugiados. Restaurantes, hotéis e pousadas, que estão entre os mais afetados pelas novas medidas, são responsáveis apenas uma proporção muito pequena das infecções na Alemanha.
Ainda menor parece ser o risco de se infectar no transporte público. Mas isso também pode ser atribuído à enorme queda no número de passageiros. Uma grande parte das infecções também ocorre em locais não especificados pelo RKI, agrupados portanto na categoria "outros".
Os locais de infecção são os mesmos da primeira onda de covid-19?
Não, existem diferenças claras. No auge da primeira onda na Alemanha, os lares de idosos e as casas de repouso respondiam por mais contágios do que as residências particulares. Além disso, o setor médico – sobretudo hospitais –, bem como abrigos para refugiados, eram locais de infecção muito mais frequentes do que agora.
Escolas e jardins de infância, por outro lado, não desempenharam nenhum papel na pandemia no início do ano. A razão é lógica: ao contrário de agora, esses locais permaneceram fechados. Também chama a atenção o fato de que o local de trabalho, apesar de ter desempenhado um papel secundário na primeira onda, seja agora responsável por um número significativamente maior de casos. Em junho, o aumento acentuado nas infecções no ambiente profissional se deve principalmente a surtos em matadouros e fábricas que empregam trabalhadores sazonais.
As formas de contágio na Alemanha, portanto, mudaram em comparação com a primeira onda da pandemia. Parcialmente em decorrência de diferentes medidas tomadas pelas autoridades, a variação nas estatísticas só ficará mais clara quando houver mais dados disponíveis sobre o atual aumento de casos no país.
Onde é mais provável contrair o coronavírus?
Escolas e jardins de infância permanecem abertos. Isso é justificável?
Apesar de amplos fechamentos na vida pública, os governos da Alemanha e da França decidiram manter as escolas e jardins de infância abertos. Uma das justificativas é a importância especial da educação para a sociedade.
Se nos atermos somente aos números, a decisão parece compreensível. Mesmo que escolas e jardins de infância desempenhem certo papel nos meios de contágio, ele é comparativamente pequeno. De acordo com os dados do RKI, são poucos os surtos que ocorrem nos centros de educação. E isso também ocorre em outros países: na Irlanda, menos de 7% dos casos foram registrados em escolas; na Espanha, 6%. Isso se deve ao fato de que os jovens são menos afetados pelo vírus do que os mais velhos. Em agosto, a proporção de infectados de até 18 anos de idade era inferior a 5% na Europa.
Quão representativos são os dados?
Infelizmente, os dados do RKI são limitados. As estatísticas da agência governamental alemã de controle e prevenção de doenças infecciosas registram apenas os chamados "eventos de surto", ou seja, casos onde são documentadas duas ou mais infecções. "Apenas cerca de um quarto do total de casos reportados de covid-19 pode ser atribuído a um surto", informou o instituto.
Questionado pela DW sobre os 75% restantes das infecções na Alemanha, o RKI admitiu que não tem dados específicos sobre esses casos. A pedido da DW, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) tampouco pôde fornecer quaisquer dados sobre os locais de infecção.
No que diz respeito à localização das infecções, portanto, três quartos dos casos no país não estão documentados. Isso se deve, por um lado, à complexidade de atribuir de forma confiável uma única infecção a um local, já que algumas pessoas permanecem assintomáticas por vários dias, tornando praticamente impossível o rastreamento.
Por outro lado, a falta de dados dificulta uma reação precisa frente à pandemia – e não apenas na Alemanha. Dados de outros países, contudo, mostram tendências semelhantes. Estudos na Coreia do Sul, por exemplo, também colocam as residências no centro dos locais de contágio, onde há "seis vezes mais probabilidade de se infectar com Sars-CoV-2" do que em outros espaços. Um estudo chinês apresentou conclusões semelhantes, indicando que a proporção de infecções em domicílios particulares é de 69%. Deutsche Welle