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Por Cinthia Leone*
Governos e empresas negligenciam coleta seletiva, mas iniciativas independentes estão encurtando o caminho entre resíduos e catadores
Os catadores são responsáveis por 90% de tudo que é reciclado no Brasil, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Há entre 800 mil e 1 milhão desses profissionais no país, segundo o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, mas esse número é apenas uma estimativa. A simples ausência de dados oficiais sobre a categoria é um sintoma do descaso do poder público e do setor privado em relação à reciclagem.
O Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE) calcula que 83% dos cidadãos brasileiros vivem em locais onde não há coleta seletiva, e apenas 3% dos resíduos sólidos no Brasil chegam à reciclagem. Se o país reciclasse seus resíduos em vez de enterrá-los, seria possível gerar milhares de empregos e R$120 bilhões em receita, de acordo com cálculos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos.
Enquanto o poder público e o mundo empresarial ignoram um problema tão sério quanto a baixíssima reciclagem no país (cada brasileiro produz em média 1kg de resíduos por dia), iniciativas independentes usam a tecnologia para aproximar quem produz os descartes de quem recicla. Um exemplo é o Cataki, um aplicativo de celular que permite acionar um catador nas proximidades e dar destino correto aos resíduos. O projeto, premiado no país e no exterior, já conta com 1400 catadores cadastrados.
Descarte correto dos materiais recicláveis
A iniciativa também orienta a população sobre como fazer o descarte de materiais recicláveis de maneira adequada:
Separe os resíduos recicláveis dos não recicláveis
materiais sujos, como guardanapos e papel higiênico usados não devem ser descartados junto com materiais recicláveis. Quanto mais limpo o descarte estiver, mais chance de que ele seja reciclado.
Separe os diferentes tipos de resíduo
Plástico, papel, metal e vidro. Isso faz muita diferença no trabalho dos catadores;
Muito cuidado com o vidro
Copos e garrafas quebradas devem ser descartados de maneira cuidadosa. Coloque os cacos em um recipiente bem fechado e escreva um aviso explícito, diminuindo a chance do catador se machucar.
Reduza seu consumo
A reciclagem é importante, mas a principal solução para o problema da poluição ambiental é a redução do consumo e consequentemente do descarte de materiais. Se for comprar, dê preferência a produtos que tenham embalagens reutilizáveis.
Escolha as embalagens com consciência
Priorizar certos materiais é um jeito simples de fortalecer a cadeia da reciclagem. Na hora de comprar bebidas, por exemplo, prefira latas a garrafinhas — no ferro-velho, o quilo desse material é 60 vezes mais valioso que o quilo do vidro. Materiais com valor menor terão menos chance de serem reciclados.
Não jogue sua latinha em qualquer lugar
Se você estiver em uma festa de rua tomando uma bebida, não jogue a lata no chão. O agachamento repetido pode causar problemas de saúde no profissional da reciclagem. Lembre-se que, para juntar um quilo de alumínio, o catador precisa coletar cerca de 70 latinhas vazias. Já pensou se toda vez que você precisasse de R$3,50 fosse preciso se agachar 70 vezes em meio a multidão na rua?
Remunere o catador
O profissional da reciclagem tem um reconhecimento inversamente proporcional a sua importância. O poder público e as empresas fingem que eles não existem, e o ferro-velho paga muito pouco pelos materiais.
Ao solicitar o serviço de um catador, lembre-se: você não está fazendo uma doação, mas contratando um profissional especializado para gerir seus resíduos. O resíduo é responsabilidade de quem o utilizou, daí a importância da separação, da limpeza, da redução de consumo – e também da remuneração.
Lixo?
Para os profissionais da reciclagem, essa palavra é quase um palavrão. Lixo é algo que cheira mal e não serve pra nada. Ao se referir à matéria-prima dos catadores, prefira termos como materiais recicláveis ou resíduos.
* jornalista do Instituto Climainfo
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