Oferecido por
Foto: planeta Mercúrio/ iStock - Ilustração NASA
por Marcos Calil
Pinturas rupestres indicam que na pré-história já eram realizadas observações do céu. Estes registros incluem os cometas, o Sol, as estrelas, a Lua e outros objetos celestes. Tanto naquela época quanto atualmente, mesmo que estejamos num céu com poluição luminosa, ainda assim é possível contemplar cinco planetas a olho nu no céu noturno. São os planetas Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Entre esses cinco planetas, talvez o mais complicado de ser observado seja Mercúrio. Entenda os motivos que dificultam a observação do planeta Mercúrio.
O movimento aparente de Mercúrio
Todos os planetas possuem um movimento próprio. De forma aparente, ou seja, quando observados da Terra, temos a impressão de que esses objetos celestes errantes, caminham entre as estrelas.
Mas, ano após ano, quando observadas nas mesmas noites e no mesmo horário, teremos a impressão de que as estrelas estarão na mesma localização, só que os planetas não. Com Mercúrio não é diferente.
O problema de Mercúrio é que, por ele estar localizado entre a Terra e o Sol, seu movimento é atípico se comparado com os demais planetas. Vênus também está entre a Terra e o Sol e possui um movimento semelhante a Mercúrio, quando observado da Terra. A questão é que, por Mercúrio estar mais próximo do Sol, a sua observação não é tão simples de ser realizada, se comparada com Vênus e os demais planetas visíveis a olho nu.
Para entender melhor esta condição vamos utilizar a figura 1 para mostrar o movimento de Mercúrio.
Movimento aparente de Mercúrio
Não entendeu a figura 1? Calma! Veja a tabela abaixo. Ela mostra os principais pontos de observação de Mercúrio. Acompanhe, na sequência, explicar o que são as Conjunções Superiores e Inferiores, as Máximas Elongações a Leste e a Oeste e o planeta Mercúrio permanecer Estacionário. Estes momentos especiais nos auxiliam, na prática, a entender melhor como fazer a observação do planeta Mercúrio.
Na tabela abaixo e também na ilustração acima, a letra T indica o planeta Terra e a letra M indica o planeta Mercúrio. Os números indicam posições para um determinado dia e a uma determinada hora. Por exemplo: T1 - posição da Terra no dia 18/4/2021, às 23 horas; M1 - posição de Mercúrio no dia 18/4/2021, às 23 horas;
Principais pontos do movimento aparente de mercúrio
Posições especiais entre a Terra e Mercúrio
Observando a figura 1 e a tabela 1, podemos perceber que os planetas Terra e Mercúrio realizam seus movimentos próprios. Em determinados momentos, esses movimentos permitem excelentes oportunidades de observações de Mercúrio ou nenhuma possibilidade de observação de Mercúrio. Vamos entender cada momento.
Conjunção Superior
T1 – M1: Conjunção Superior – com base no dia 18 de abril de 2021, iniciaremos uma sequência de observação de Mercúrio. Vamos tomar como ponto de partida a Conjunção Superior. Neste momento é impossível contemplar o planeta Mercúrio, pois temos um alinhamento quase perfeito entre Terra – Sol – Mercúrio.
Máxima Elongação a Leste
T2 – M2: Máxima Elongação a Leste – após a ocorrência da Conjunção Superior, se fixarmos sempre o mesmo horário de observação e observando o horizonte oeste, teremos a impressão de que Mercúrio cada vez mais irá ganhar altura em relação a linha do horizonte oeste. No momento em que ocorre a Máxima Elongação a Leste, de forma aparente, o planeta Mercúrio iniciará a sua trajetória rumo à linha do horizonte oeste.
Para a sequência observacional mencionada na tabela 1 e demonstrada na figura 1, a Máxima Elongação a Leste irá ocorrer em 17 de maio de 2021, às 03 horas. Neste horário não é possível contemplar Mercúrio, portanto, será necessário observar o planeta Mercúrio, poucos instantes após o ocaso do Sol, no próprio dia 17 de maio.
Cabe ainda mencionar que, por ser o planeta mais próximo do Sol, Mercúrio não se afasta a um ângulo superior a 28 graus, fato que faz com que esse planeta possa ser considerado o mais difícil de ser observado a olho nu, se comparado com Vênus, Marte, Júpiter e Saturno.
Em termos de observação prática, o que ocorre é que esse planeta atinge alturas que, por muitas vezes, fica próximo da linha do horizonte. Assim, qualquer árvore, prédio ou montanha que esteja à frente do campo de observação de Mercúrio, acaba atrapalhando a contemplação deste planeta. Além disso, para quem está localizado numa cidade com poluição luminosa, o brilho (magnitude visual) de Mercúrio fica ofuscado por causa das luzes artificiais presentes próximas da linha do horizonte.
Mercúrio estacionário
T3 – M3: Estacionário – após a ocorrência da Máxima Elongação a Leste, vai se passando os dias e Mercúrio vai perdendo altura em relação a linha do horizonte oeste. Até que, em 30 de maio, Mercúrio fica estacionário.
Sempre é bom lembrar que, para o horário mencionado na tabela 1, à 01 hora, em 30 de maio, não será possível contemplar Mercúrio, pois devemos lembrar que Mercúrio só é possível de ser contemplado no anoitecer (ou no amanhecer, como veremos adiante).
Conjunção Inferior
T4 – M4: Conjunção Inferior – na trajetória aparente de Mercúrio, rumo a linha do horizonte oeste, chegará o momento em que Mercúrio não poderá ser mais observado. Isso porque, de forma aparente, ele se aproximará do Sol. No momento em que temos um alinhamento quase perfeito entre Terra – Mercúrio – Sol, ocorrerá o que chamamos de Conjunção Inferior. Na nossa sequência observacional representada na tabela 1, isso ocorrerá em 10 de junho, às 23 horas.
Mercúrio estacionário novamente
T5 – M5: Estacionário – após a Conjunção Inferior, com o avançar dos dias, Mercúrio começa a ser observado antes do nascer do Sol para o lado do horizonte leste. Além disso, se fixarmos um horário de observação, perceberemos que Mercúrio cada vez mais ganha altura, em relação a linha do horizonte leste. E, será no dia 22 de junho, às 18 horas, que Mercúrio estará estacionário. Porém, como para esse horário não é possível observar Mercúrio, temos que contemplar esse planeta no dia anterior ou posterior, antes do nascer do Sol no horizonte leste.
Máxima Elongação a Oeste
T6 – M6: Máxima Elongação a Oeste – como descrito, após a ocorrência do momento que Mercúrio ficou estacionário, se fixarmos sempre o mesmo horário de observação e observando o horizonte leste antes do nascer do Sol, teremos a impressão de que Mercúrio irá ganhar cada vez mais altura, em relação a linha do horizonte leste. Quando ocorrer a Máxima Elongação a Oeste, de forma aparente, Mercúrio deixará de ganhar altura em relação a linha do horizonte leste, para depois, com o avançar dos dias começar a cada vez mais perder altura em relação a linha do horizonte leste.
Para a sequência observacional mencionada na tabela 1, a Máxima Elongação a Oeste irá ocorrer em 04 de julho, às 18 horas. Neste horário não é possível contemplar Mercúrio, portanto, será necessário realizar a observação de Mercúrio poucos instantes antes do nascer do Sol do dia posterior a 04 de julho.
Por fim, o ciclo se repete, iniciando uma nova Conjunção Superior, representado por T7 – M7 na tabela 1 e na figura 1.
Resumo das dicas para observar Mercúrio
Neste primeiro momento, a trajetória aparente de Mercúrio parece ser complicada. Isso porque, foi posto aqui os motivos que levam as observações de Mercúrio ocorreram somente no anoitecer ou no amanhecer. Mas, no caso de uma simples observação, basta saber que:
Mercúrio pode ser observado a olho nu, mesmo no céu com poluição luminosa;
Mercúrio só pode ser observado no amanhecer ou no anoitecer;
No amanhecer, quando visível, Mercúrio pode ser contemplado poucos instantes antes do nascer do Sol no horizonte leste;
No anoitecer, quando visível, Mercúrio pode ser contemplado poucos instantes após o ocaso do Sol no horizonte oeste ;Como nem sempre esse planeta adquiri uma altura significativa de observação, procure sempre contemplar Mercúrio nos horizontes leste ou oeste que não possuem a interferência de árvores, prédios ou montanhas.
Quer aprender a olhar para o céu e achar os planetas?
É possível observar a olho nu no céu da sua cidade quatro planetas: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Para ensinar como localizar e contemplar esses planetas de forma simples e rápida, o professor Marcos Calil elaborou o curso “Astronomia Observacional a olho nu: Stellarium e Planetas”.
Adquirindo esse curso, você saberá como instalar e configurar o software gratuito Stellarium, para simular o céu da sua cidade, apresentando as posições dos planetas e dos demais objetos celestes que podem ser observados a olho nu ou com telescópio.
São cinco vídeos aulas num total de 3 horas e 25 minutos de vídeo, além de uma vídeo aula bônus com o tema “Configurando Stellarium: Objetos do Sistema Solar”, contendo 19 minutos de aula.
Além disso, ao adquirir o curso, você terá acesso a conteúdo exclusivos que oferecem diversos materiais impressos e links. Você poderá também acessar as lives realizadas no YouTube pelo professor Marcos Calil todas as terças feiras, às 21 horas, para aprender cada vez mais sobre outros fenômenos astronômicos que irão ocorrer no céu da sua cidade como, por exemplo, chuvas de meteoros, ocultações de estrelas pela Lua, Lua próxima dos principais objetos celestes e muito mais.
Não perca essa oportunidade e adquira agora seu curso “Astronomia Observacional a olho nu: Stellarium e Planetas”
Bons céus para todos nós!
Siga Marcos Calil nas redes sociais