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Crédito de carbono: nunca vi, nem comi, só ouço falar

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Foto: iStock

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Palavrinhas na moda entre autoridades e economistas, conceito é percebido como dinheiro fácil para um país com enormes florestas como o Brasil. Será?

 

Quem acompanha o noticiário já notou que autoridades e economistas brasileiros têm falado bastante sobre crédito de carbono mais recentemente. Se você está boiando sobre o assunto, um consolo: as autoridades também estão, tem muita gente falando bobagem sobre o tema.

 

E não é para menos:

 

créditos de carbono são ao mesmo tempo uma unidade de medida, que corresponde a 1 tonelada de dióxido de carbono (CO2) equivalente ou 1t CO2e, e também um certificado que pode ser emitido para pagamento no mercado de capitais. 


O crédito de carbono permite que uma empresa que emitiu uma determinada quantidade de CO2 (um poderoso gás causador do efeito estufa) possa pagar por essa emissão e assim compensá-la. O vendedor desse crédito é uma organização que tenha conseguido retirar da atmosfera a mesma quantidade de carbono que o emissor precisa compensar. 


O Brasil tem potencial para o mercado de carbono?


Shigueo Watanabe, físico do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), é especialista nesse tema que mistura economia e ciência do Clima. Ele explica que apesar do termo estar na moda no Brasil, não existe propriamente um mercado de carbono no país.

 

“Desde 2005, cerca de 1.000 projetos foram registrados e receberam créditos de carbono no Brasil. Entre 2005 e 2012, os projetos brasileiros negociaram cerca de 100 milhões de toneladas de carbono, o que deve ter gerado receitas da ordem de US $1,5 bilhão”, relembra Watanabe. 

 

O cenário mudou completamente em 2012, quando a União Europeia decidiu não mais aceitar crédito de Brasil, Índia, China e de outras economias grandes e com alto nível de emissão (o Brasil é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo).

 

“De lá para cá, o preço da tonelada despencou. Ainda assim, outras 100 milhões de toneladas devem ter sido negociadas, só que gerando menos de US $500 milhões”, afirma o professor. 

 

Há uma enorme incerteza sobre quais mecanismos e incentivos serão aceitos no mercado de carbono global, o que será debatido na próxima Cúpula do Clima na ONU (COP26), em novembro.

 

“Os projetos de energia renovável provavelmente não serão mais aceitos. O custo das eólicas e fotovoltaicas caiu tanto que não precisa mais do carbono para serem viáveis”, diz. O único caminho que poderia impulsionar com certeza o mercado de carbono brasileiro, segundo o professor, seria o estabelecimento de metas robustas de restauração de florestas nativas. 

 

 

Crédito de carbono fresquinho, quem quer?

 

“Sempre que se ouve falar em mercado de carbono aqui, só aparecem vendedores e nenhum comprador. Um mercado é formado pelos 2.”, diz Watanabe.

 

“Não dá para montar um esquema só para vender créditos de carbono. Precisamos obrigar os setores mais emissores a assumirem metas de redução de emissão: siderurgia, cimento, algumas indústrias químicas. Um dia, bem mais para frente, precisaremos incluir o transporte na lista também”. 

 

Ou seja, se ninguém obriga as empresas a reduzirem suas emissões, quem vai precisar comprar os créditos de carbono oferecidos, por exemplo, por projetos de restauração florestal? Parte da confusão sobre créditos de carbono vem da ideia de que outros países fariam obrigatoriamente essa aquisição, misturando o conceito de crédito de carbono com o de pagamento por serviços ambientais, fundos climáticos e outras medidas financeiras para manter florestas em pé. 

 

Mas Watanabe explica que se o país quiser fomentar um mercado robusto de créditos de carbono terá que fazer a sua própria lição de casa.

 

“Com metas obrigatórias de redução de emissões para determinados setores, seria possível criar um mercado interessante e canalizar recursos para quem conseguir fazer isso [a captura de carbono] pelo menor custo.

 

 

Leia também: 

O papo é economia de baixo carbono

 

 

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