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Foto: desertificação é um problema em áreas do Nordeste (iStock)
Em 1975 a ONU definiu o dia 17 de junho como o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca. Desde então, a data é usada para alertar populações do mundo inteiro para o fato de que a seca e o processo de desertificação não são inevitáveis -- o fenômeno pode ser enfrentado com a participação ampla da sociedade.
O conhecimento para combater a desertificação está consolidado, mas esse processo de degradação do solo continua aumentando em todo o planeta, ameaçando a produção de alimentos e a biodiversidade. No Brasil há quatro núcleos em estágio avançado de desertificação: Gilbués, no Piauí; Irauçuba, no Ceará; Cabrobó em Pernambuco; e Seridó, na divisa entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba. As áreas desertificadas somadas passam 230 mil km², extensão superior à do estado do Ceará.
O problema está no solo
Ao contrário do que muitos pensam, a desertificação não ocorre apenas em função do Clima árido ou semi-árido.
Gilbués, por exemplo, é uma região de clima tropical sub-úmido, ou seja, com um volume de chuvas que não é tão pequeno. A região começou a virar deserto porque o solo delicado do sertão brasileiro, onde predominam os biomas Caatinga e Cerrado, foi desmatado e posteriormente usado para o cultivo de monoculturas (quando se planta apenas uma espécie em áreas muito grandes).
Tanto a retirada da vegetação original como a agricultura tradicional, acrescida do uso de agrotóxicos e fertilizantes industrializados por longos períodos, levaram ao esgotamento progressivo do solo. Em outras palavras, o mau uso matou a terra, onde nada é capaz de nascer.
É essa ausência de vida no solo que caracteriza a desertificação e não a falta de água.
Conhecimento sobre os solos brasileiros ainda é escasso
Arenização nos Pampas
Na região da chamada Campanha Gaúcha, no Rio Grande do Sul, os solos são arenosos e naturalmente pobres em nutrientes, e sobre essas terras foram instalados esquemas de monocultura intensiva por muitos anos. Para completar, o Pampa, bioma predominante na região, foi violentamente desmatado, perdendo por completo mais da metade de sua área original e estando hoje com os fragmentos remanescentes também em situações variáveis de degradação.
Essas características combinadas destruíram a terra em porções do Sudoeste gaúcho, nas cidades de Quaraí, Alegrete e Cacequí. Apesar do fenômeno ser idêntico à desertificação, tecnicamente esse processo nos Pampas recebe o nome de arenização.
A diferença é que neste caso o fenômeno está ocorrendo em uma área bastante úmida, com precipitações anuais em torno de 1400mm.
Mesmo com chuvas, a arenização cria grandes áreas de terras mortas, mostrando mais uma vez que o problema está no cuidado com o solo e não na disponibilidade de água.
Reconexão com a terra
A boa notícia é que a solução para os processos de desertificação e arenização requer medidas simples. Entre elas, a principal e mais importante é interromper o desmatamento, e em seguida promover um processo de reflorestamento com espécies nativas. Também é fundamental deixar de praticar aquilo que causou o problema, isto é, substituir a agricultura tradicional por modelos sustentáveis, e usar métodos de irrigação que não causem erosão.
Também é necessário entender que o uso da terra precisa se relacionar com o entorno, pois uma cultura que se adapta bem a um determinado bioma e clima pode não ser adequada em outros. Forçar uma produção em uma região que não tem vocação para o plantio acarretará maior uso de agrotóxicos e fertilizantes, ou seja, um retorno ao comportamento que originou a desertificação.
Se você é produtor rural ou autoridade pública em uma região que vive processos de desertificação e arenização, saiba que a recuperação é possível, e buscar a consultoria de técnicos e cientistas é fundamental. Usar, esgotar e abandonar é comportamento de predadores, e não de filhos da Terra, que é o que os seres humanos na verdade são.
3 dicas de livros para ajudar o planeta
Para saber mais:
Neste 17 de junho de 2021, a Embrapa fez uma live especial pelo Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca. Neste link é possível assistir ao evento gravado.
A Embrapa ofereceu também um curso sobre restauração agroecológica de solo em diferentes biomas, incluindo o Pampa. O evento apresentou estudos de caso, com destaque para o custo benefício do emprego de algumas espécies e opções de manejo. Confira aqui.
Os núcleos de desertificação no Nordeste estão caracterizados de forma simples e objetiva neste estudo.