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É urgente a adoção de medidas efetivas para combater os efeitos das mudanças climáticas na economia brasileira e garantir a preservação da floresta em pé. A constatação é unânime entre os maiores especialistas em Clima do País, que estiveram reunidos nesta quarta-feira (30) no Climatempo Sustainability Summit – Climate Change, primeiro de uma série de três seminários on-line realizados pela Climatempo, empresa de referência em serviços de meteorologia no Brasil.
“A devastação da floresta Amazônica já atinge um grau que compromete a reversão das mudanças climáticas”, alertou o pesquisador Carlos Nobre, um dos mais conceituados climatologistas brasileiros. “Estamos muito próximos de um ponto de não retorno. Em algumas áreas, a estação seca se expandiu nos últimos 50 anos, de quatro meses para quase cinco. A seca, o incêndio ou o desmatamento danificam muitas árvores, a redução das chuvas resultará em menos vegetação e assim por diante, em um ciclo de redução. Eventualmente, isso pode transformar grandes regiões da Amazônia em um ecossistema mais parecido com uma savana (embora com muito menos biodiversidade)”, explicou o climatologista.
Essas mudanças, de acordo com Nobre, já são evidentes em algumas áreas como o Sul da Amazônia, onde já há maior emissão de CO2 do que filtragem. Além disso, o especialista lembrou que em algumas regiões da floresta já há impactos na fauna. Nobre destacou que é preciso construir um caminho de desenvolvimento sustentável para a Amazônia, lembrando que levar gado e plantações para a região não gera riqueza para o país.
Gilca Palma, vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento na Climatempo, lembrou que essas alterações já são sentidas nas previsões de chuva pelo país. Com um extenso trabalho sobre variabilidade climática e seus impactos em diferentes segmentos de indústria, a executiva destacou que, na análise do clima ao longo dos anos, é possível afirmar que o Brasil já conta com períodos mais prolongados de secas e que é importante considerar esse comportamento para o desenvolvimento de políticas públicas, de forma a evitar racionamentos, por exemplo.
“Há meses tínhamos previsões de menos chuvas neste ano e medidas preventivas poderiam ter sido adotadas para que a situação brasileira agora fosse melhor. E já sabemos qual deve ser o cenário para o próximo ano, uma tendência de chuvas abaixo da média no centro-sul, por isso a importância de trabalhar com planejamento a partir desse contexto”, destacou a executiva.
Paulo Artaxo, professor e pesquisador do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) afirma que chegamos a um momento em que decisões concretas precisam ser tomadas para que o clima no mundo seja estabilizado. Ele chamou a atenção para o fato de o Canadá ter registrado recentemente temperatura de 48º C e a Califórnia, 52º C, além do registro da maior cheia da história do Amazonas, o que demonstra o desequilíbrio do clima. “O próximo relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, na sigla em inglês) é muito contundente de que precisamos resolver as questões ambientais, pois não temos um planeta B. Estamos muito próximos de um limiar que pode desestabilizar de forma grave o clima de nosso planeta”, enfatizou.
Para o ambientalista e secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, a atual política ambiental brasileira tem comprometido os avanços na preservação ambiental. Astrini ressaltou em especial o aumento do desmatamento da Amazônia, que já é 60% maior do que na última década. “O desmatamento gera pobreza e desigualdade. O Brasil tem uma vantagem imensa nessa corrida das mudanças climáticas, porque nós temos a possibilidade mais fácil e rápida de oferecer para o mundo soluções e sermos pioneiros. É preciso retomar a vocação do Brasil como líder nas mudanças climáticas e na preservação do meio ambiente”, disse Astrini.
O painel contou com a mediação de Matthew Shirts, co-criador da plataforma de conteúdo climático Fervura, e contou ainda apresentação de Carlos Magno, CEO da Climatempo, e key note speaker de SØren Andersen, CEO da StormGeo, uma das uma das maiores empresas de previsão do tempo do mundo.
Esse foi o primeiro encontro do Climatempo Sustainability Summit, que terá mais dois encontros, em 17 de agosto sobre agricultura e no dia 20 de setembro sobre energia. O primeiro debate está disponível neste link.