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Foto: Inundações na Alemanha em julho de 2021 (Serviço médico do Bundeswehr/ Fotos públicas)
por Cinthia Leone (Instituto Climainfo)
Um grupo de cientistas fundado recentemente viu sua demanda de trabalho dobrar nas últimas semanas. A iniciativa World Weather Attribution (WWA) foi criada em 2014 para acelerar estudos de atribuição em resposta a eventos extremos. As pesquisas de atribuição são as responsáveis por responder a famosa pergunta “é culpa das mudanças climáticas?”. Na verdade, elas calculam se um fenômeno extremo, como uma onda de calor, por exemplo, se tornou mais provável ou intenso em decorrência das mudanças climáticas.
O trabalho desses pesquisadores é diferente, por exemplo, da tarefa dos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), que apresentará seu próximo relatório na segunda-feira (9/8). O Painel faz previsões sobre o comportamento do clima em cenários com diferentes taxas de aquecimento da atmosfera, e calcula também o quanto as emissões de gases de efeito estufa originadas por atividades humanas contribuem para esse aquecimento. Já os estudos de atribuição observam o quanto as mudanças climáticas participaram de um evento extremo específico.
No dia 20 de julho, quando chuvas torrenciais em Henan, na China, despejaram em horas a mesma quantidade de água esperada para o ano inteiro, os cientistas da WWA já estavam mergulhados nos cálculos de atribuição das mais devastadoras enchentes da história da Alemanha e que também atingiram Bélgica, Holanda e Suíça. Antes, eles já trabalhavam na missão de entender a contribuição da mudança do clima sobre a intensidade das ondas de calor mortais que avançaram sobre a América do Norte, também em julho.
Não é tarefa simples
Estabelecer um vínculo causal direto entre um caso individual de inundação, incêndio ou tempestade e o clima mais amplo é uma ciência ainda em evolução.
Muitos fatores podem influenciar um desastre natural, incluindo as condições climáticas locais — que podem estar mudando — a composição da paisagem, as intervenções humanas e a variabilidade natural. Mesmo sem a mudança climática, extremos como as ondas de calor ocorreriam.
Mas se essa área do conhecimento se tornar mais precisa, muita coisa vai mudar. Ela poderia permitir previsões mais reais sobre a intensidade de eventos futuros e identificar áreas que estão particularmente em risco, permitindo preparação e adaptação nas regiões afetadas. Uma atribuição mais forte também poderia fortalecer casos judiciais que já estão sendo apresentados em tribunais de todo o mundo contra empresas produtoras de combustíveis fósseis e governos omissos.
Difícil ou não, a necessidade de prever com mais eficácia a intensidade de eventos extremos já é uma questão de vida ou morte em um mundo em crise climática. As chuvas na China causaram a morte de ao menos 302 pessoas. As enchentes da Europa mataram aproximadamente 200 pessoas, há mais de 70 ainda desaparecidas. A onda de calor no oeste do Canadá e dos EUA, causou a morte de ao menos 800 pessoas em um intervalo de 6 dias, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. Mais 2.800 pessoas nos estados de Oregon, Washington, Idaho e Alasca precisaram de hospitalização devido ao calor durante aqueles dias.
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Indícios mais fortes
Os pesquisadores do WWA dizem que podem avaliar com confiança o quanto as mudanças climáticas tornaram mais prováveis os grandes eventos climáticos individuais, como ondas de calor, chuvas intensas e tempestades. Eles coletam dados, como temperatura e medições do volume da água da chuva, e os comparam com as tendências históricas de clima semelhante na mesma região, depois executam simulações computadorizadas que modelam as normas climáticas esperadas com ou sem a influência das mudanças climáticas. Esse processo pode levar semanas ou meses, dependendo da complexidade do fenômeno.
“Embora este seja um ramo da ciência relativamente novo que se desenvolveu nos últimos 15 anos, há muitos grupos que computam estas conexões. Nossa abordagem na colaboração da World Weather Attribution é diferente de duas maneiras: tentamos ter nossos resultados prontos o mais rápido possível após o evento, e tentamos responder o máximo possível às perguntas feitas pelo mundo exterior”, explicam os pesquisadores no site da instituição. “Ambas as abordagens têm como objetivo tornar os estudos de atribuição mais úteis.”
No caso das ondas de calor na América do Norte, o WWA concluiu que as temperaturas registradas naquela região seriam “virtualmente impossíveis” sem a mudança climática. Eles já tinham chegado a uma conclusão semelhante sobre a intensa onda de calor ocorrida na Sibéria em julho de 2020.
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Multiplicação de casos
Alguns eventos extremos ganham mais visibilidade que outros. Mas com tantos ocorrendo simultaneamente, esses desastres podem começar a passar despercebidos ou até se tornarem corriqueiros.
Desde o final de julho, inundações extremas na Índia deixaram centenas de mortos e desaparecidos e milhares de desabrigados. Enquanto isso, o Leste da Europa arde na maior crise de fogo em 30 anos na região do mediterrâneo, afetando principalmente a Turquia e a Grécia. Animais de criação estão sendo queimados em massa, e uma central térmica precisou ser evacuada ontem (4/8).