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Como relacionar um evento extremo com a mudança climática

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Foto: destruição em bairro de Nova Iorque (Estados Unidos), após passagem do furacão Sandy em outubro/novembro de 2012 (iStock)

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Eventos climáticos extremos, tais como ondas de calor, chuvas fortes, ciclones e secas, estão se tornando mais frequentes e mais fortes em muitas partes do mundo. Isso é resultado da mudança climática causada principalmente pelos combustíveis fósseis e pelo desmatamento. 


Mas nem todos os eventos meteorológicos extremos se tornam mais comuns e piores devido às mudanças climáticas. Alguns podem até ter diminuído de intensidade por influência delas, ou podem não ter sofrido alteração. E as mudanças do Clima agem de maneira desigual em diferentes partes do mundo.

 

Regiões com maior suscetibilidade natural a eventos extremos, por exemplo, tendem a sofrer os piores impactos da mudança do clima, mas áreas até então “sossegadas” também podem começar a ver seu padrão de tempo mudar muito e de maneira muito rápida. 

 

 

 

Foto: destruição em bairro de Nova Iorque (Estados Unidos), após passagem do furacão Sandy,

em outubro/novembro de 2012 (iStock)

 

 

Mudança climática não é causa


Após um evento extremo com impactos severos, como o que acaba de ocorrer em Petrópolis, na região serrana do Rio De Janeiro, cada vez mais, uma pergunta é dominante: "Este evento foi causado pela mudança climática?     


A mudança climática não pode ‘causar’ um evento porque todos os eventos climáticos têm múltiplas causas, o que inclui o acaso próprio da natureza caótica do clima.

 

Mas a mudança climática pode afetar a probabilidade e a intensidade de um evento. E pode, portanto, afetar o impacto que um evento específico teve sobre as pessoas, as propriedades e a natureza. 

 

 

Ciência da atribuição


Hoje a ciência é capaz de dizer com alto grau de precisão quantas vezes a mudança climática pode ter tornado um evento meteorológico mais frequente ou mais intenso. É a chamada ciência da atribuição


A ideia de atribuir eventos meteorológicos individuais ao impacto das alterações no clima veio de um cientista climático, Myles Allen, cuja casa estava em vias de ser inundada. Ao ver as águas subirem, ele começou a contemplar a questão da responsabilidade - quem era o culpado pelos impactos em escala local das mudanças climáticas em escala global? E seria possível fazer esta conexão de uma forma científica rigorosa?

 

A chuva de Petrópolis de 15/2/2022 podia ser prevista?


Até recentemente, os cientistas evitavam conectar um evento individual meteorológico à mudança climática. Em vez disso, apontavam para a tendência, indicando que aquele evento pode ser mais frequente no futuro por ação das alterações no clima. Mas a mudança climática deixou de ser algo ligado ao futuro e já está tendo uma profunda influência sobre o clima que vivenciado há décadas. 


O primeiro estudo de atribuição de eventos extremos foi publicado em 2004, e abordou a onda de calor do verão de 2003 na Europa ocidental, uma onda de calor prolongada sem precedentes que matou 70.000 pessoas. Após esta catástrofe, os pesquisadores usaram modelos climáticos para determinar o papel desempenhado pela mudança climática. Fizeram isso por meio de simulações com cenários diferentes, com ou sem a contribuição do aquecimento global causado por atividades humanas. Descobriram que aquela onda de calor seria rara nos dois cenários, mas o dobro de vezes mais provável em um cenário de aquecimento da atmosfera. 


A ciência da atribuição está se desenvolvendo. Os primeiros estudos levavam meses para serem concluídos, agora existe o chamado “estudo rápido de atribuição”, que busca dar às autoridades um diagnóstico ágil de como a mudança climática influenciou uma catástrofe. A ideia é apontar responsáveis, por isso cada vez mais casos jurídicos climáticos estão usando este tipo de estudo contra poluidores nos tribunais. 


A principal organização internacional dedicada a este tipo de pesquisa foi criada em 2014 - o World Weather Attribution - mas a maior parte das análises ainda está focada no Hemisfério Norte. Serão necessárias mais análises de eventos no Sul global para que a ciência entenda de forma completa como as catástrofes meteorológicas estão sendo agravadas pela mudança do clima. 

 

 

 

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