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Foto: Stormgeo
O início de junho vem sendo marcado por uma La Niña de intensidade fraca, mas entre Março, Abril e Maio o evento climático apresentou intensidade moderada, com uma anomalia de temperatura superficial do mar de -1,1°C. Esta é a menor anomalia de temperatura superficial do Oceano Pacífico na faixa NINO3.4, do período entre Março e Maio, em 72 anos, ou seja, desde o -1,2°C em 1950, de acordo com a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional norte-americana (NOAA, na sigla em inglês).
Menores anomalias da temperatura da superfície do mar no setor do Niño 3.4 entre o trimestre Março, Abril e Maio. Fonte: NOAA :
O fenômeno La Niña, como o El Niño, se intensifica mais nas estações do verão e da primavera, entre setembro e março.
E apesar do início de junho o Niño 3.4 estar com -0,9°C, está sendo o mais frio nos primeiros 15 dias para um mês de junho dos últimos 23 anos. Desde os -1,1°C em junho de 1999.
Como o La Niña funciona
El Niño e La Niña são considerados quando cinco trimestres móveis estão com desvios de anomalia pelo menos +0,5°C e -0,5°C na região equatorial central do Oceano Pacífico (Niño 3.4).
Mesma situação para a variável EMI (ENSO Modoki Index), que é quando a mudança é mais central, que neste caso é o +0,5°C (El Niño Modoki) e o -0,5°C (La Niña Modoki).
Em anos de El Niño, o evento dura de 9 a 12 meses. Já o La Niña varia de 1 a 3 anos. Ambos tendem a se desenvolver durante março e junho, atingindo pico de intensidade durante o período de dezembro a abril, e então enfraquecem de maio a julho.
Mapa indicando a posição do Niño 3.4 para a analise de eventos do El Niño-Oscilação do Sul, .Fonte:NOAA.
Em anos de La Niña há uma intensificação da circulação do Oceano Pacífico, onde se intensificam os ventos alísios, que são formados na região equatorial pelo encontro dos ventos nos dois hemisférios e aumentam de intensidade de leste a oeste do Pacífico.
Assim, mais águas quentes irão ficar represadas na faixa oeste equatorial do pacífico, e o desnível entre o Pacífico Ocidental e Oriental irá aumentar. Há ressurgência no lado leste do Oceano Pacífico equatorial e as águas, mais quentes do que normal, como mencionado, ficarão mais concentradas no lado oeste do Oceano Pacífico.
As águas mais quentes ajudam na evaporação e no movimento ascendente, gerando nuvens de chuva e deixando o fluxo de ar nos trópicos na baixa atmosfera (célula de Walker) mais extenso que o normal. Já na região com movimentos descendentes da célula de Walker ajudam a inibir nuvens de chuva. Além disso, em anos de La Niña a chuva aumenta sua frequência em parte do Nordeste e Norte do Brasil, e também deixa o Clima mais seco no sul do país. Nos anos em que esse fenômeno ocorre, há maior incidência de ondas de frio fortes, além de frentes frias que passam de maneira mais costeira. Há também de condições para maior frequência de queda de granizo, por conta da atmosfera mais fria.
Em geral, episódios La Niñas têm uma frequência de 2 a 7 anos. A La Niña mais recente se destaca por estar ocorrendo há 3 anos seguidos, situação parecida com as registradas nos períodos de 1998 a 2001 e entre 1973 e 1976.
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A resposta está na Oscilação Interdecadal Do Pacífico (ODP), a correlação existente entre anomalias na temperatura da superfície do Mar (TSM) do Pacífico e a pressão em superfície na região da baixa dos Aleutas, no Pacífico norte. Durante a fase quente da ODP, a baixa dos Aleutas se aprofunda, deixando o oeste e o centro do Pacífico norte anomalamente frios, enquanto há aquecimento no leste e costa do Pacífico norte, além da região tropical central e leste. Na fase fria, ocorre um padrão aproximadamente inverso, como o que acontece desde 1999, e durante o episódio há mais frequências de La Niña.
Recentemente, porém, há também a influência no Oceano Atlântico. A mudança climática está desacelerando o transporte das correntes oceânicas que trazem a água quente dos trópicos para o Atlântico Norte. Ou seja, está havendo um colapso desse sistema – chamado de circulação meridional do Atlântico (AMOC) – com potencial para mudar o clima da Terra para um estado mais semelhante ao La Niña. Isso significa que podemos ter mais períodos secos na metade sul do Brasil e aumento de chuvas no norte e parte do Nordeste do país, além de inundação no leste da Austrália e secas severas no sudoeste dos Estados Unidos.
Esse enfraquecimento da AMOC torna o Norte do Atlântico mais frio e faz com que boa parte a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) migre para a faixa sul da América do Sul. A circulação desse sistema ajuda a aumentar as chuvas na parte tropical sul do Atlântico, deixando mais fortes os ventos alísios no Oceano Pacífico (intensificação da circulação de Walker), e mais frio o Oceano Pacífico. Desta forma, há mais condições para mais La Niña, ou potencial para a formação, o La Niña-like. Com essa situação, há uma redução do transporte de calor no Oceano Atlântico e calor mais concentrado no Hemisfério Sul do Oceano, provocando um enfraquecimento da Alta Subtropical do Atlântico Sul, e mais chuvas na faixa norte do Brasil. Isso se deve à influência das águas mais quentes que o normal, que ajudam na maior quantidade de evaporação, além da presença de umidade na região, de acordo com o ártico da "nature climate change".
Veja também: O ar, o mar e o clima na Terra.
Tendência para hoje e os próximos dias
Para oeste do Paraná, área majoritária de milho, as temperaturas diminuem um pouco até o dia 14 de junho, e chegam ao limite dos dois graus, uma temperatura com potencial para geada na região de São Miguel do Iguaçu e Cascavel. Essas condições remontam em parte o ocorrido em maio do ano passado, em que houve temperaturas que chegaram a menos de 2 graus em Toledo, por exemplo, algo bastante pontual. Especificamente para o milho do oeste do Paraná, esse frio já começa a ficar semelhante ao de maio de 2022, embora não haja previsão de geadas amplas na área de milho do oeste do estado. Há risco SIM de geadas mais amplas nas áreas de feijão do Paraná e também nas áreas de hortifrúti nos Campos Gerais, que podem ser atingidas mais uma vez por geadas fortes.
A temperatura prevista para área de cana-de-açúcar não é tão baixa tanto no Paraná como em Mato Grosso do Sul, e a mesma situação vale para o café tanto do Paraná, como de São Paulo e Minas Gerais. As temperaturas previstas por meio da simulação numérica norte-americana não indica frio extremo a ponto de trazer perigo de geadas de danos para esse tipo de cultura, nessas áreas. Um frio forte está previsto para Região Sul, com potencial para danos na agricultura, e muitos municípios devem registrar temperaturas negativas. Mas em função dos ventos em altitude da chamada corrente de jato, essa massa de ar polar não consegue avançar Brasil afora, pelo menos não com essa intensidade que está sendo prevista para o sul do Brasil.
A previsão é de tempo severo e com risco de granizo sobre o Centro-Oeste nesta sexta (10), o que preocupa com relação ao algodão e o milho safrinha. A expectativa de chuva para os próximos 7 dias indica altos acumulados para época do ano até em Mato Grosso, Rondônia, Acre, (na casa dos 50mm). No norte do Mato Grosso do Sul e sudoeste de Goiás também há previsão de acumulados elevados, mais nesta sexta-feira (10/06) e em meados da semana que vem. Essa chuva avança sobre área de cana-de-açúcar, laranja, café e deve paralisar ou pelo menos diminuir o ritmo de colheita dessas culturas agora e nos próximos dias.
Outro destaque é que continua chovendo forte sobre o leste do Nordeste, desde a Bahia até a Paraíba, e na região norte, além do Acre e Rondônia. Também há previsão de chuva forte em Roraima, Amapá e norte do Amazonas.
Durante o período que vai do dia 16 ao 22 de Junho, o que mais chama atenção é uma chuva intensa, com acumulados superiores aos 100 mm entre o Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. A previsão mostra que ainda há uma expectativa de que essa corrente de jato das frentes frias fiquem ativas um pouco mais ao norte. Porém, no decorrer de julho a tendência é que essas chuvas mais fortes fiquem concentradas entre Uruguai e o Rio Grande do Sul, devido ao deslocamento mais para baixo. fazendo com que o Brasil tenha um mês de julho mais seco do que Junho.