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Maior autoridade científica sobre biodiversidade afirma que humanidade está abusando de espécies selvagens das quais depende e critica lógica de mercado
Foto: Getty imagens
O comércio de espécies silvestres é a terceira atividade ilegal do mundo, com movimentação de ao menos US$ 199 bilhões. Enquanto isso, mais de 50 mil espécies selvagens das quais bilhões de pessoas dependem – para alimentação, energia, renda ou saúde -- estão em declínio devido à exploração excessiva ou perda de habitat. Neste cenário, os formuladores de políticas falham em incorporar medidas de valorização da natureza que fujam da lógica de mercado.
Essas informações são de dois novos relatórios da IPBES (Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos), um órgão internacional de pesquisa e política frequentemente descrito como "IPCC da biodiversidade". Os documentos foram criados com base em milhares de artigos científicos revisados por pares, e seu texto final foi negociado pelos representantes dos países-membros da plataforma reunidos na Alemanha entre o final de junho e o começo de julho deste ano.
Os dois novos relatórios mostram a urgência da ação para tentar frear a crise da biodiversidade. O primeiro, lançado na sexta-feira (8) descreve como os seres humanos têm se utilizado da vida selvagem de maneira insustentável, enquanto o segundo destaca formas não monetárias de medir o valor da natureza. Os dois ressaltam que a crise climática, também causada por atividades humanas, contribui e é agravada simultaneamente pelo declínio da biodiversidade planetária.
De acordo com o relatório que descreve a relação dos humanos com a vida selvagem, nos últimos 20 anos, o uso de espécies silvestres tem aumentado em geral, mas sua sustentabilidade tem variado de acordo com as práticas, sendo a superexploração ainda bastante comum.
“A biodiversidade está sendo perdida e as contribuições da natureza para pessoas estão sendo degradadas mais rápido agora do que em qualquer outro momento da história da humanidade", disse Ana María Hernández Salgar, presidente da IPBES.
"Isto ocorre em grande parte porque nossa atual abordagem política e econômica não leva em conta suficientemente os diversos valores da natureza.
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Já o relatório dedicado ao valor da natureza mostra que o número de estudos com este tema aumentou em média mais de 10% por ano nas últimas quatro décadas. Nos últimos 10 anos, o foco principal dessas pesquisa, segundo o relatório, tem sido a melhoria da condição da natureza (65% dos estudos de avaliação analisados) e a melhoria das condições de vida das pessoas (31%), com apenas 4% focados na melhoria das questões em torno da justiça social.
74% desses estudos focaram em valores instrumentais (para que a natureza serve), 20% esteve mais centrado em valores intrínsecos (o valor da natureza em si mesma), e apenas 6% em valores relacionais (o valor da relação entre homem e o restante da natureza).
“Diferentes tipos de valores podem ser medidos usando diferentes métodos de avaliação e indicadores”, explica Patrícia Balvanera, uma das autoras do relatório.
“Um projeto de desenvolvimento pode produzir benefícios econômicos e empregos, para os quais valores instrumentais da natureza podem ser avaliados, mas também pode levar à perda de espécies, associadas a valores intrínsecos da natureza, e à destruição de sítios patrimoniais importantes para a identidade cultural, afetando assim os valores relacionais da natureza. O relatório fornece orientações para a combinação destes valores muito diversos.”
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Os dois relatórios devem influenciar as negociações diplomáticas sobre biodiversidade durante a Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) COP15, que será realizada em Montreal, no Canadá, em dezembro deste ano. O Brasil é um dos países mais importantes neste debate, já que concentra sozinho quase 20% das espécies do mundo. A América do Sul por si mesma é um dos atores centrais desta discussão, com alguns países – Colômbia e Equador, por exemplo – concentrando algumas das taxas mais altas do mundo de biodiversidade por metro quadrado.