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O Paquistão terminou agosto de 2022 em situação de calamidade pública. As chuvas de monções de 2022 têm provocado mortes e destruições, dia após dia, e por meses. O volume de chuva observado dentro deste período de monções ultrapassa em 10 vezes a média Climatológica (ou a média dos últimos 30 anos) e em algumas províncias do sul do país.
Foto 1: Precipitação acumulada entre 02 e 31 de agosto de acordo com o CPC (NCEP - NOAA).
Essas chuvas torrenciais deixaram uma catástrofe sem precedentes no Paquistão e a recuperação do país requer bilhões de dólares .
De acordo com o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, na sigla em inglês), das Nações Unidas, desde 14 de junho, já ocorreram ao menos 1000 mortes e milhões de pessoas foram feridas ou sofreram com as chuvas constantes. Ao menos 16 milhões de crianças foram afetadas pelas inundações.
Em agosto deste ano foram mais de 400mm de chuva sobre regiões e províncias do Paquistão, alguns com mais de 600mm e outros acumulando mais de 800mm, como em Sindh, por exemplo. Baluchistão também teve fortes chuvas e inundações, com mais de 300mm acumulados. Alguns locais receberam quatro vezes mais chuva do que o normal para o mês.
Foto 2: Anomalia de precipitação de 02 a 31 de agosto de 2022, de acordo com o CPC (NCEP - NOAA).
Mais de um terço do país está submerso em enchentes, inundações e deslizamentos de terra e 66 distritos tiveram situação de calamidade pública decretada pelo governo paquistanês.
A chuva continuará a vir, e este número só deve aumentar. As províncias de Balochistan e Sindh concentram o maior número de pessoas feridas, que perderam suas vidas e lares; há diversas áreas com estruturas abaladas e desastres severos. O abastecimento e meios de subsistência também estão sendo fortemente atingidos. O governo do Paquistão destinou cerca de 173 milhões de dólares (OCHA) para ajudar as pessoas afetadas e suporte internacional foi requisitado.
Imagens de satélite mostram as severas inundações no sul do Paquistão em agosto de 2022
Por que está chovendo tanto no Paquistão?
Essas chuvas têm relação com o período de monções na região. A monção acontece de junho a setembro ( verão do Hemisfério Norte) e é caracterizada por uma mudança direção dos ventos favorecendo a formação de nuvens de chuva, e que fica mais forte em anos de La Niña. Além disso, essa monção registra uma mudança da posição Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). E está relacionado também com a fonte de calor, assim consequentemente traz mais chuva por lá.
Volumes de chuva de monção muito acima da média e água de degelo causaram inundações extremas no Paquistão
Ou seja, quando ocorre a monção no Paquistão, como na Índia, uma ou mais áreas de baixa pressão atmosférica que permanecem na Ásia, e somadas com a circulação dos ventos que trazem mais umidade do mar para o continente. Isso também ocorre por conta do contraste de temperaturas e assim os ventos seguem em direção à região mais quente.
Influência de oscilação Madden Jullian
Além do fenômeno La Niña, a oscilação Madden Jullian (MJO) chegou a ficar forte no começo e no final de agosto, nas fases 5 e 2, e também favoreceu o aumento das chuvas na região do Paquistão. Em especial a fase 5, mas de maneira geral entre as fases 2 e 6 da MJO, auxiliam no aumento de precipitação nesse país, quando ocorrem entre os meses de maio e setembro.
Também temos a contribuição da oscilação Intrasazonal do Verão Boreal (no Hemisfério Norte - BSISO - Boreal Summer Intraseasonal Oscillation), que controla a formação de baixas pressões atmosféricas e seus ciclos nas monções da Índia e regiões próximas. Ou seja, as baixas pressões conseguem se formar sobre a baía de Bengala e regiões costeiras próximas da Índia.
Quando a BSISO está entre as fases 4 e 5, as áreas de instabilidades atuam mais sobre a Índia e Paquistão, como ocorreu recentemente. Além disso, na fase 4 a 5 da MJO, a baixa pressão tem vida mais longa e mais penetrante nesses países.