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Em um cenário de crise climática global, pressões nacionais e internacionais e eventos extremos, o setor privado brasileiro está cada vez mais envolvido com a agenda do Clima do planeta. Diante da necessidade de se discutir o tema, o Instituto O Mundo Que Queremos, com o apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e do Partnerships for Forests, um programa financiado pelo Governo do Reino Unido e implementado pela Palladium & Systemiq, realizaram nesta quarta-feira (16/11), no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, a segunda edição do ClimaX SP, evento paralelo à COP (Conference of the Parties), para estimular o encontro e o networking entre os principais stakeholders do país.
ClimaX SP 2022 conectou representantes, executivos e diretores de empresas com a COP 27
(Foto: O Mundo Que Quereremos)
“Existe a percepção de que a crise climática ameaça os negócios e gera imensas oportunidades também. Nesse contexto, há um grande interesse em conectar com quem tem boas experiências no tema”, afirma Alexandre Mansur, diretor de Projetos do Instituto O Mundo que Queremos.
Neste ano, o ClimaX conectou mais de 50 representantes, executivos, diretores de empresas e pessoas ligadas à transição da economia para o baixo carbono com os principais atores e discussões realizadas na COP 27, em Sharm el-Sheikh, no Egito.
A programação contou com três painéis: Justiça Climática e Adaptação, Mecanismos de Financiamentos para a floresta em pé e Mercado de Carbono. A primeira discussão foi mediada pela redatora-chefe da Vogue Brasil, Maria Laura Neves, que é mestre em Sustentabilidade pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), e teve a participação de Flávia Bellaguarda, gerente de Relações Institucionais no Centro Brasil no Clima (CBC) e fundadora da Latin American Climate Lawyers for Mobilizing Action (LACLIMA), Caroline Medeiros Rocha Frasson, membro da LACLIMA, e Amanda Costa, fundadora do Instituto Perifa Sustentável.
Em sua fala, Amanda destacou que não há justiça ambiental sem justiça racial. “A minha geração não aceita apenas um emprego. Queremos trabalhar em empresas que estejam realmente comprometidas com o desenvolvimento sustentável, trazendo políticas climáticas e antirracistas. É necessário que tenhamos empregos verdes em territórios vulneráveis, investimentos nas periferias e a implementação da justiça climática para os povos mais afetados, isto é, comunidades quilombolas, povos indígenas, ribeirinhos, o povo preto e periférico. Esta é a hora da mudança. E como diz Emicida, essa mudança precisa acontecer para ontem”.
Já o segundo painel, Adaptação, Mecanismos de Financiamentos para a floresta em pé, reuniu Marcio Sztutman, diretor de Soluções Baseadas na Natureza da Palladium, Carlos E. Agnes, da Blended Finance Taskforce e Katerina Elias-Trostmann, head of ESG & Sustainability da BNP Paribas Brazil, para falar sobre o assunto sob a mediação de Alexandre Mansur.
A última discussão foi mediada pela jornalista Patrícia Duarte e contou com a participação de Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda e signatário da Convergência Pelo Brasil, Gustavo Pinheiro, coordenador de Economia de Baixo Carbono do iCS, João Daniel de Carvalho, coordenador do GT de Mercados de Carbono da LACLIMA, e Sergio Margulis, economista-chefe da Convergência pelo Brasil.
“O mercado de carbono está começando no Brasil e, como todo mercado, tem o lado da oferta e o da demanda. No lado da oferta, tem muita gente se movimentando, principalmente oferta ligada, em última instância, à biomassa. Ainda em termos de oferta, temos um potencial muito grande, bem definido e bastante transparente, de modo que fica evidente as emissões evitadas”, observa Levy.
De acordo com ele, os três principais aspectos que devem ser discutidos são a oferta no Brasil, ou seja, melhorar cada vez mais a qualidade e certificação das emissões de carbono, o mercado no setor industrial, com estabelecimento de metas transparentes, e, por último, um trabalho de advocacy a nível internacional.
Para Pinheiro, que está na COP 27, de um lado há o desafio de desenvolver a oferta, principalmente de carbono a partir de soluções baseadas em natureza, e do outro, uma demanda global crescente e um volume enorme de recursos que já estão sendo destinados.
“Estamos observando um potencial de bilhões de dólares fluindo para esse mercado nos próximos anos, mas com o desafio de construir cadeias de sementes, de viveiros, de profissionais, para que esses projetos possam ser desenvolvidos em escala. Nos setores como energia, biogás e até mesmo de eficiência energética, já temos um pouco mais de desenvolvimento no mercado, mas o tema quente dessa COP é a originação de créditos de soluções baseados em natureza e os recursos estão sendo colocando sobre a mesa pelo setor privado, o que vai ser um enorme desafio em termos de estruturação operacional para que se entregue os resultados esperados pelos investidores”, afirma.
De volta ao cenário no Brasil, Margulis lembrou que o país já tem experiência com o mercado de carbono e não está "no zero", o que falta, no entanto, é uma lei que regulamente essa iniciativa. “O mercado vai ser criado, de fato, quando o Poder Legislativo criar uma lei e estabelece-la como uma lei que todos os setores devem cumprir. O Brasil tem experiência nacional, mas depende de uma vontade política para que isso aconteça. Primeiro, precisávamos ter um governo que reconhecesse a ciência e o aquecimento global. Agora, acho que estamos com o caminho pronto para essas discussões avançarem”, reforça o economista.