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Vários cientistas estudam o acompanhamento das variáveis meteorológicas, que é de extrema importância para a sociedade, no setor de saúde pública é necessário que esse acompanhamento seja redobrado. Fatores temporais e climáticos interferem fortemente nos vetores de enfermidade como é mostrado na figura 1.
Figura 1. Sistematização sobre as condições de Saúde. Fonte: Adaptado de McMichael, Wood ruff e Hales. Lancet, 2006
Essa matéria trás como referência para explicar essa relação de meteorologia e saúde através do artigo intitulado como The effect of relative humidity on the behaviour and development of Triatoma brasiliensis, sendo o Triatoma brasiliensis um dos vetores da Doença de Chagas Aguda (DCA), os autores realizaram um experimento laboratorial que consiste em verificar quais as higropreferências (preferências pela umidade relativa) e a adequação de diferentes níveis deste parâmetro ambiental dos triatomíneos (popularmente conhecido como barbeiro), vale ressaltar que, para o controle da umidade relativa eles utilizaram diferentes soluções de salinas e/ou água destilada. No estudo, por meio dos dados obtidos e observações, constatou-se que o inseto possui preferência por umidade relativa do ar mais baixa, porém esses insetos não suportam longos períodos de inanição durante a estação seca devido a falta de abrigos úmidos. Entretanto, durante a estação chuvosa, eles toleram um jejum prolongado.
Bom, por meio das análises realizadas nesse estudo, percebe-se a relação entre a doença e as variáveis meteorológicas. De acordo com o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), a capital paraense, Belém, é a que contém os maiores números de casos confirmados de DCA, sendo assim, esses dados são facilmente relacionados com as variáveis meteorológicas. Como é visto na Figura 2, é realizado uma comparação de número de casos de DCA, temperatura do ar e umidade específica, sendo as três análises para Belém.
Figura 2. (a) A relação entre Umidade Específica e número de casos de DCA e (b) relação entre Temperatura do Ar e número de casos de DCA.
É possível observar através da análise realizada para a capital paraense que os picos de casos de DCA ocorrem recorrentemente em meses específicos, no segundo semestre dos anos, a maior concentração de casos anuais se dá especificamente na primavera austral (Setembro, Outubro e Novembro), onde ocorre a diminuição dos valores de precipitação, umidade específica do ar (umidade relativa do ar) e aumento da temperatura. Essas condições atmosféricas são propícias para a transmissão da doença de forma vetorial (contato com fezes de Barbeiro infectados após alimentação sanguínea). O estudo mencionado no início dá suporte a essas causas, os insetos não suportam longos períodos sem alimentação durante estações secas, no caso para Belém, estiagem, devido a falta de abrigos úmidos. Por outro lado, durante a estação chuvosa, eles toleram um jejum prolongado. O ano de 2017 obteve mudanças na variabilidade do número de casos de DCA, havendo o maior número de casos no verão austral. Uma hipótese para esse acontecimento seria a ocorrência de oscilações atmosféricas, em especial a presença do El Niño muito forte nos anos de 2015 e 2016, sendo assim, causando mudanças.
O fator que está fortemente atrelado ao número de casos da doença é a transmissão oral mediante ao consumo do açaí contaminado. Na região norte e nordeste o consumo após a extração da polpa/ suco do fruto para consumo é típico e cultural das regiões. O triatomíneo sente-se atraído pelo açaí, notas técnicas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) já apontaram que, essa atração provém pela reflexão de luz do fruto e os odores emitidos no processo de fermentação do açaí, devido ao calor e umidade. Portanto, quando não há as Boas Práticas de Fabricação (BPF), o triatomíneo contaminado presentes nesse processo de extração acaba contaminando os consumidores.
Por Augusto Pereira e Vitor Pereira - CAMET UFPA (Universidade Federal do Pará)