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A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo e ocupa uma área em torno de 40% da América do Sul, sua dinâmica atmosférica ajuda a regular o Clima do planeta e está entre as maiores reservas de biodiversidade do mundo. A composição atmosférica sobre a bacia Amazônica contém uma variedade de constituintes, gases e partículas, que variam sazonalmente. Na estação menos chuvosa a região sofre os impactos das emissões de queimadas locais e regionais, e na estação mais chuvosa as emissões biogênicas são predominantes. A atmosfera Amazônica também é influenciada por partículas de aerossóis provenientes do transporte atmosférico. Além do transporte de sais marinhos do oceano, eventos de poeira e plumas de fumaça da África são frequentemente registrados sobre a floresta.
As partículas suspensas na atmosfera, e nesse contexto, sobre a floresta Amazônica, são denominadas aerossóis atmosféricos. Por definição os aerossóis são partículas sólidas ou líquidas em suspensão em um gás, nesse caso, a atmosfera. Tais partículas desempenham um papel muito importante nas questões de mudanças climáticas e na saúde humana. Os aerossóis são capazes de alterar o fluxo radiativo da terra através de suas propriedades óticas, nos processos de absorção e espalhamento da radiação solar, e são fundamentais para a formação de nuvens pois alteram as propriedades microfísicas das nuvens. Dependendo da composição e do tamanho médio, alguns aerossóis podem estar extremamente relacionados à doenças respiratórias, afetando diretamente a vida humana.
Os aerossóis atmosféricos têm um tempo de vida relativamente curto, durando dias a semanas, e mesmo assim eles são capazes percorrer longas distâncias. É o caso das areias do Saara, o maior deserto do mundo, e aerossóis de queimadas de regiões do continente africano. Em 2015, a NASA descobriu, através de imagens de satélites, que aerossóis da África conseguem atravessar o oceano Atlântico e fertilizar a Amazônia, ainda que uma distância de mais de 5 mil quilômetros os separe. Isso acontece porque a poeira carrega um elemento muito importante para as proteínas e crescimento das plantas: o fósforo. Além de servir como nutriente para o desenvolvimento da floresta, parte desses aerossóis atua como núcleo de condensação para a formação de nuvens que precipitam sobre essa região.
A floresta amazônica tem um solo pobre em nutrientes. As plantas recebem a maior parte dos nutrientes através das folhas caídas que entram em decomposição, porém alguns nutrientes como o fósforo são varridos para os córregos e rios pelas chuvas. Assim, a floresta é muito beneficiada pela poeira do Saara que carrega o fósforo. Cerca de 22 toneladas de poeira são depositadas sobre a floresta amazônica, o suficiente para suprir o fósforo perdido devido às chuvas e inundações.
A Amazônia central apresenta dois períodos distintos, o período chuvoso com uma atmosfera mais limpa (fevereiro a maio) e o período menos chuvoso com uma atmosfera mais poluída (agosto a novembro). Assim é marcada a sazonalidade da região, e essa sazonalidade acompanha a posição da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), e também relaciona-se com a queima de biomassa na África e na América. Durante o período menos chuvoso na Amazônia, a carga de aerossóis na atmosfera é maior, uma vez que não há tanta chuva para fazer a limpa de aerossóis na atmosfera. As queimadas nesse período também contribuem fortemente para a elevação da concentração desses aerossóis.
É possível simular a trajetória de massas de ar utilizando o modelo HYSPLIT da NOAA, disponível em: https://www.ready.noaa.gov/HYSPLIT.php. Com esse modelo, conseguimos ver a massa de ar que se desloca da África até a Amazônia.
A Figura 1 mostra bem as diversas trajetórias, em vários níveis da atmosfera, da região do Saara (poeira) que atravessam o oceano atlântico e depositam-se sobre a Amazônia.
a)
b)
Figura 1. Simulações de trajetórias usando o modelo de transporte HYSPLIT entre a) 14 e 15 de fevereiro e b) 18 de fevereiro de 2008, partindo de regiões da Depressão Bodélé até a Amazônia. As linhas verde, vermelha e azul mostram os níveis de 0, 500 e 1000 metros acima do nível do solo respectivamente. (BEN-AMI et al., 2010).
Referência: BEN-AMI, Y. et al. Transport of North African dust from the Bodélé depression to the Amazon Basin: a case study. Atmospheric Chemistry and Physics, v. 10, n. 16, p. 7533–7544, 16 ago. 2010.
CA responsável: camet-ufpa
Autores: Lucas Rangel, Elisa Valente, e o Prof. Dr. Rafael Palacios.