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O Bitcoin e outras moedas semelhantes – as criptomoedas ou criptoativos – consomem uma quantidade expressiva de eletricidade. Esta energia é em grande parte produzida a partir da queima de combustíveis fósseis, a principal causa da mudança climática em curso. Este fato faz das criptomoedas uma das indústrias de maior impacto climático no mundo, comparável ao da produção de carne bovina.
A mineração das criptomoedas exige um enorme consumo de energia, que gera o impacto ambiental no mundo real.
Alto consumo de energia
Para se ter uma ideia da magnitude do consumo de eletricidade das criptos, uma estimativa do publicada no ano passado pelo governo dos EUA aponta para o consumo anual de 120 a 240 bilhões de quilowatts-hora, algo entre 0,4% e 0,9% do uso de energia elétrica global. Esta faixa de consumo é superior a de muitos países e semelhante às de Argentina e de Austrália.
Quanto mais uso de eletricidade, principalmente de fontes sujas, como as termelétricas, mais impacto sobre o Clima. Um relatório de 2022 realizado por cientistas climáticos da Europa, calcula que apenas a mineração de bitcoin pode ser responsável pela emissão de 65,4 megatoneladas de CO2 por ano. Isso é comparável às emissões de um país como a Grécia (56,6 megatoneladas em 2019) e supera a projeção de toda a emissão evitada globalmente pelos veículos elétricos até 2030.
Onde o biticoin consome mais energia?
A explicação por trás desse consumo exagerado de energia para um produto que é, em sua essência, imaterial está na validação das transações dos criptoativos. Essa verificação é feita pela tecnologia de blockchain, que registra as transações digitalmente de forma transparente, verificável e imutável. Para isso, uma quantidade realmente expressiva de dados precisa ser processada – a chamada mineração.
É a mineração das criptomoedas, e seu enorme consumo de energia, que gera o impacto no mundo real desses ativos digitais.
Segundo o governo dos EUA, a moeda deste tipo com o maior consumo de energia em 2022 – e consequentemente maior contribuição para a mudança climática – é o Bitcoin (de 60 a 77% do uso de eletricidade por criptoativos), seguido pela Ethereum (de 20 a 39%).
Um estudo da Universidade do Novo México, nos EUA, estima que a cada 1 dólar investido privadamente em Bitcoin, 0,35 centavos de dólar são produzidos em custos ambientais e climáticos para todos. E segundo a pesquisa, conforme este mercado ganha maturidade, os impactos climáticos estão aumentando em vez de diminuir porque novas moedas e novos mineradores são adicionados e competem entre si. A análise conclui ainda que o impacto ambiental do Bitcoin supera francamente o da extração de ouro.
Aquecimento global e as criptomoedas
Para que a humanidade tenha chances de limitar o aquecimento global abaixo de 1,5°C neste século, em comparação com a temperatura do século 19, evitando os piores impactos da mudança climática, todos os países – e indústrias – precisam zerar suas emissões até meados do século ou antes. E os caminhos para que a indústria de criptomoedas chegue a este resultado passam pelo abandono da eletricidade feita de combustível fóssil, mas dependem sobretudo de ajustes tecnológicos.
Isso está acontecendo. Enquanto a maior poluidora Bitcoin não se move, a Ethereum concluiu no final de 2022 seu processo de “merge”, uma mudança em sua tecnologia que reduziu seu consumo de energia em 99%. A Universidade de Cambridge, no Reino Unido, atestou esta redução por meio de um ranking específico.
Ao se tornar menos intensiva em energia, a Ethereum ganha espaço em mercados onde a demanda por energia elétrica é muito disputada, como a China. O país chegou a proibir a mineração de criptomoedas para racionalizar o uso de eletricidade em 2021.