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O peso da mudança climática na onda de calor de setembro

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Especialistas apontam que, apesar de influência do El Niño, altas temperaturas na América Latina em agosto e em setembro tiveram como principal causa o aquecimento decorrente da ação humana.

 

As mudanças climáticas provocadas pela ação humana são a causa mais provável para explicar a recente onda de calor registrada no Brasil e em outros países da América Latina, em agosto e em setembro deste ano. Segundo estudo rápido de atribuição da World Weather Attribution (WWA), embora o El Niño possa ter tido alguma influência sobre as altas temperaturas, é pelo menos 100 vezes mais provável que a mudança climática tenha sido a principal causa do calor.

 

Onda de calor no começo da primavera de 2023 na América do Sul foi 100 vezes mais provável com a mudança climática causada pela ação humana (Foto: Getty Imagens)

 

Em agosto e em setembro, grandes regiões da América do Sul foram afetadas por um calor excepcionalmente extremo. No Brasil, o final do inverno e o início da primavera foram marcados por ondas de calor em grande parte do país, com temperaturas ultrapassando os 40°C em alguns municípios do centro-norte.

 

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, as cidades de Cuiabá (MT) e São Paulo (SP) tiveram o inverno mais quente dos últimos 63 anos.

 

O estudo foi conduzido por 12 pesquisadores como parte do grupo World Weather Attribution, incluindo cientistas de universidades e agências meteorológicas do Brasil, Holanda, Reino Unido e Estados Unidos, e analisou os dez dias consecutivos mais quentes de agosto e setembro em uma região abrangendo Paraguai, Brasil e regiões da Bolívia e da Argentina, onde o calor foi mais extremo.

 

Comparando Climas com e sem aquecimento global 

 

Para quantificar o efeito da mudança climática sobre as altas temperaturas sustentadas, os cientistas analisaram dados meteorológicos e simulações de modelos para comparar o clima atual, após cerca de 1,2°C de aquecimento global desde o final do século XIX, com o clima do passado, seguindo métodos revisados também por outros cientistas. A análise também considerou o efeito do El Niño, um fenômeno natural que tem como consequência a elevação das temperaturas na América do Sul e em outras partes do mundo, e que está afetando a região este ano.

 

Os cientistas concluíram que esses episódios de calor extremo na América do Sul fora dos meses de verão teriam sido extremamente improváveis sem as mudanças climáticas causadas pelo homem, e constataram que a mudança climática tornou o calor 100 vezes mais provável.

 

No clima atual, as temperaturas quentes muito incomuns no início da primavera podem ser esperadas aproximadamente uma vez a cada 30 anos na região. A mudança climática também tornou o episódio de calor entre 1,4 e 4,3°C mais quente do que teria sido se os seres humanos não tivessem aquecido o clima.

 

 

Influência da mudança climática e do El Niño

 

Lincoln Muniz Alves, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), é um dos autores do estudo, e reforça que, embora muitas pessoas tenham apontado o El Niño para explicar a onda de calor, essa análise demonstra que a mudança climática é a principal causa.

 

"Queremos deixar claro que um El Niño em desenvolvimento teria contribuído com um pouco de calor, mas sem a mudança climática, uma onda tão intensa na primavera teria sido extremamente improvável."

 

Episódios de calor como esse se tornarão ainda mais frequentes e extremos se as emissões de gases de efeito estufa não forem rapidamente reduzidas a zero, alertam os cientistas. Se o aquecimento global atingir 2°C, ondas de calor semelhantes se tornarão ainda mais prováveis, ocorrendo uma vez a cada 5 ou 6 anos, e um adicional de 1,1-1,6°C mais quente em comparação com o clima atual.

 

"Temperaturas acima de 40°C na primavera estão se tornando comuns em muitas partes do mundo. Essa é a realidade do nosso clima, que está se aquecendo rapidamente”, complementa Izidine Pinto, pesquisadora no Royal Netherlands Meteorological Institute.

 

"A menos que tomemos medidas ambiciosas para reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa, essas ondas de calor só se tornarão mais intensas, afetando pessoas vulneráveis e perturbando os ecossistemas que são vitais para a regulação do nosso clima."

 

 

 

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