Oferecido por
O ano de 2023 entra para a história climática do planeta Terra, como ano mais quente já registrado, com temperatura média 1,4°C acima dos níveis do período pré-industrial (1850 a 1901). Na comparação com dados paleoclimatológicos obtidos pela análise de anéis de árvores e de camadas de gelo profundas, 2023 foi considerado o mais quente em 125 mil anos, segundo segundo a Organização Meteorológica Mundial.
No Brasil, 2023 começou com chuvas torrenciais de uma Zona de Convergência do Atlântico Sul estimulada pelo La Niña e terminou em seca histórica, extremos de calor e dilúvios de El Niño.
Análises feitas pelo Instituto Nacional de Meteorologia mostraram que o Brasil sentiu o excesso de calor global e teve o julho, o agosto, o setembro, o outubro e o novembro mais quentes já observados, pelo menos desde 1961. O maior desvio positivo foi o de setembro, quando a temperatura média do país foi de 25,8°C e ficou 1,6°C acima da média normal para este mês, que é de 24,2°C.
Culpa do El Niño
O El Niño que se formou em 2023 foi considerado de forte intensidade e teve uma parcela de culpa em quase todas as tragédias que o excesso e a falta de chuva causaram em diversas regiões do Brasil.
O fenômeno El Niño, caracterizado pelo aquecimento acima do normal do oceano Pacífico Equatorial, na costa norte do Peru e do Equador, começou a se configurar em maio. O aquecimento foi rápido e o Brasil começou a sentir o efeito do aumento da temperatura na costa peruana já durante o inverno. Ao longo da primavera, enquanto a água do mar na costa do Peru esquentava cada mês um pouco mais, o Sul do Brasil submergia em volumes de chuva excepcionais e recordes históricos.
Por causa do El Niño, fortes e frequentes correntes de ar quente chegaram ao Sul do Brasil gerando intensos contrastes de temperatura com massas de ar frio que passavam pela costa do Uruguai e do Rio Grande do Sul. O resultado foi a formação de ciclones extratropicais e de frentes frias em quantidade fora do comum.
Entre meados de junho e meados de setembro, o Rio Grande do Sul sentiu a influência de 8 ciclones extratropicais, uma média de 1 a cada duas semanas.
Foi para a conta do El Niño também uma grande parcela de culpa pela seca histórica nos rios da Amazônia. O Atlântico Norte muito mais quente do que o normal fica com a outra parte da culpa.
Ondas de calor
O El Niño também foi um dos culpados pelo excesso de calor de 2023 no Brasil e no mundo!
Ondas de calor na primavera são relativamente comuns no Brasil. Antes de 2023, a mais recente e intensa ocorreu na primavera de 2020, quando o patamar mínimo de calor intenso no Brasil mudou de 43°C para 44°C. Mas em 2023, chegamos mais perto do 45°C e o Brasil registrou a maior temperatura em mais de 100 anos de medições do Instituto Nacional de Meteorologia.
Não se pode enquadrar no “normal, na média” cinco ondas de calor consecutivas e abrangentes em apenas 1 semestre. Foi isso que o Brasil viveu em 2023. Isso explica porque a expressão “calor excessivo” ficou entre os 10 assuntos mais buscados no Google no Brasil em 2023.
Janeiro
O ano de 2023 começou sob a influência do fenômeno La Niña, o oposto do El Niño, que deu muita chuva ao Brasil em janeiro de 2023. Segundo cálculos do Instituto Nacional de Meteorologia, choveu forte e o acumulado de janeiro superou média histórica nos estados do Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Pará, Acre e Amazonas. Mas outro destaque de janeiro foi o calor que fez na Região Sul, especialmente no Rio Grande do Sul.
Janeiro de 2023 terminou com quase 500 mm acumulado em Franca (SP), quase 570 mm em Araxá (MG) e mais de 600 mm em Nova Xavantina (MT). A chuva volumosa foi provocada por episódios de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS)
No início de janeiro de 2023, entre os dias 06 e 09, houve a formação de um ciclone na costa subtropical na costa do Sudeste, mas foi classificado apenas como depressão subtropical. Mas outra ameaça de ciclone ocorreu na costa do Espírito Santo entre os dias 21 e 23 de janeiro,
Com o La Niña comandando o Clima no começo do ano, o Rio Grande do Sul ficou quente e com pouca chuva. O calor passou um pouco dos 40°C no estado. A região de Quaraí teve 40,9°C em 1/1/23, em Uruguaiana fez 40,7 °C no dia 24 de janeiro.
Fevereiro
Os grandes volumes de chuva que caíram no litoral e na capital de São Paulo, em Fortaleza e no Rio De Janeiro e o calor de 40°C no Rio Grande do Sul foram destaque em fevereiro de 2023.
O carnaval de 2023 será para sempre inesquecível para quem estava no litoral de São Paulo, não pela alegria, mas pela tragédia causada por um dos maiores volumes de chuva em 24 horas já registrados no Brasil. Rios e cachoeiras de lama soterraram parte da Barra do Sahy, em São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo.
O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) mediu cerca de 630 mm em Barra do Sahy/São Sebastião.
O mapa mostra alguns volumes de chuva registrados apenas no dia 19/2/2023 no litoral de São Paulo, pela medição do Cemaden.
Uma frente fria semi-estacionária no litoral de São Paulo, combinada com a circulação marítima de ventos (grande injeção de umidade em direção ao continente) e a água do mar mais quente do que o normal provocaram os grandes volumes de chuva.
A cidade de São Paulo teve o terceiro fevereiro mais chuvoso em 81 anos. Pela medição do Instituto Nacional de Meteorologia choveu 428,9 mm na estação meteorológica convencional no Mirante de Santana, na zona norte da capital paulista. Este total ficou 66 % acima da média histórica para o mês, que é de 257,7 mm.
Também merece destaque em fevereiro o calor intenso que fez no Rio Grande do Sul
Março
O destaque de março de 2023 foi a chuva muito volumosa no centro-norte do Brasil. Quatro episódios de bandas duplas da Zona da Convergência Intertropical (ZCIT) provocaram volumes de chuva muito elevados. Choveu mais de 600 mm em áreas do Pará e Maranhão.
No Maranhão, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) registrou 734,2 mm em São Luís/Jd. Calhau e 747,6 mm em Satubinha.
No Pará choveu 622,2 mm em Marabá e 707,8 mm na região de Tucuruí.
No Ceará, o Instituto Nacional de Meteorologia registrou 428,2 mm em Quixeramobim, o triplo da média normal de precipitação para março, que é de 136,9 mm. Foi o março mais chuvoso desde 1981, de acordo com o histórico do Inmet.
Também merece destaque os 529,8 mm que caíram sobre Rio Branco, capital do Acre, quase o dobro da média normal de precipitação para março, que é de 285,6mm. Segundo o Inmet, Rio Branco teve o março mais chuvoso desde 1997
Abril
Em abril de 2023, a chuva ficou bastante concentrada sobre o Norte e em áreas do Nordeste do país. O Instituto Nacional de Meteorologia contabilizou acumulados acima da média histórica nos estados do Paraná, Rio de Janeiro, Maranhão, Roraima, Pará e Amazonas.
Tucuruí (PA) acumulou 525 mm e teve o segundo abril mais chuvoso da histórica, perdendo apenas para os 672 mm de 2009, quando acumulou 672,0 mm
Abril é um mês onde ocorre naturalmente uma redução da chuva no Sudeste e no Centro-Oeste do Brasil. Mas na região de Teresópolis, na serra fluminense, choveu quase 350 mm, o triplo do normal para este mês.
Fez tanto calor em 2023, que talvez poucas pessoas lembrem do friozinho que fez no Sul, em áreas do Sudeste e do Centro-Oeste na segunda quinzena de abril de 2023. Foi uma grande queda da temperatura provocada pela passagem de uma massa de frio de origem polar com características continentais.
No Sul, a temperatura ficou perto de 0°C. Ponta Porã, no sul de Mato Grosso do Sul, teve frio em torno dos 10°C e em Ituverava,no norte de São Paulo, a temperatura baixou para 11°C.
Maio
Como terceiro mês do outono, fazer frio em maio é não só normal, mas como esperado. Mas maio de 2023 começou muito quente no centro-sul do Brasil e o calor no Sul do Brasil chamou a atenção. O Instituto Nacional de Meteorologia registrou até 30°C no sul do Rio Grande Sul e quase 25°C na região mais fria do Brasil, São Joaquim, na parte mais elevada da serra catarinense.
Maio já é um mês de pouca chuva no Centro-Oeste, mas em Goiânia, o Inmet não registrou chuva neste mês.
Mas, em relação à chuva, os grandes destaques de maio foram a chuva volumosa no Norte do Brasil, que fez com que quase toda a Região terminasse o mês com mais chuva do que a média normal, e os eventos de chuva forte no litoral leste do Nordeste. O Rio Grande do Sul também teve muita chuva.
Volumes de chuva muito elevados de maior de 2023 (Inmet)
Aracaju: 433,6 mm (média normal: 226,9 mm)
Belém 417,2 mm (média normal: 323,6 mm)
São Luiz Gonzaga (RS): 299,8 mm (média normal: 168,6 mm)
Benjamin Constant (AM): 324,5 mm (média normal: 216,0 mm)
Maio trouxe a primeira onda de frio, temperatura negativa e chuva congelada no Sul do Brasil. As menores temperaturas mínimas foram de -1,8ºC em General Carneiro (PR), em 16/05/2023, e de -1,4ºC em Monte Verde (MG), no dia 20/05/2023.
No fim de maio de 2023, a expectativa do desenvolvimento de um novo episódio do El Niño, e de forte intensidade, começou a ganhar espaço nas mídias.
Junho
O primeiro ciclone extratropical com grande impacto no Rio Grande do Sul foi o maior destaque de junho de 2023. Mas o frio que fez em Mato Grosso do Sul, em Mato Grosso e no sul de Rondônia também merecem ser destacados.
Entre 15 e 16 de junho de 2023, um intenso ciclone extratropical se formou entre o litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina causando volumes de chuva de mais de 200 mm, de forma generalizada, no nordeste do RS, especialmente na Grande Porto Alegre e no litoral norte gaúcho. Em Maquiné choveu cerca de 300 mm em 24 horas.
Este ciclone extratropical causou chuva torrencial no Nordeste do Rio Grande do Sul. A cheia dos rios nos Vales do Caí e Taquari deixou cidades alagadas, após acumulados de 300 mm de chuva em 24 horas ou 48 horas. Em grandes áreas choveu cerca de 200 mm em 24 horas.
Porto Alegre registrou 141,7 mm entre 9h do dia 15 e 9h do dia 16, maior volume de chuva em 24h em junho desde 1916, quando o Instituto Nacional de Meteorologia iniciou as medições meteorológicas na capital gaúcha.
Grandes inundações foram observadas na região de Porto Alegre e captadas por satélites da NASA.
O ciclone extratropical que se formou entre 15 e 16 de junho foi o primeiro de uma série de ciclones que se formariam até setembro, com pouco espaço de tempo entre um e outro.
No fim da primeira quinzena de junho de 2023, uma massa de ar frio polar continental ficou represada no interior da América do Sul provocando muito frio em Mato Grosso, em Mato Grosso do Sul, em Rondônia e no Acre. O frio intenso provocou geada em áreas do Pantanal de Mato Grosso do Sul.
Em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, o Instituto Nacional de Meteorologia registrou apenas 8,9°C de temperatura máxima no dia 14/6/2023. Esta é a menor máxima da série histórica da estação automática de Campo Grande, iniciada em setembro de 2001.
No dia 14 de junho de 2023, a temperatura mínima em Campo Grande foi de 7,2°C. A amplitude térmica (diferença entre a temperatura máxima e a mínima) foi de apenas 1,7°C
Julho
Análise do Instituto Nacional de Meteorologia concluiu que julho de 2023 foi o julho mais quente no Brasil desde 1961. A temperatura média no país foi de 23,0°C, com desvio de 1,1°C acima da média normal que é de 21,9°C.
Temperatura media Brasil em julho de 2023
A maioria das frentes frias que chegaram ao Brasil em julho de 2023 tiveram deslocamento oceânico, que não permitiram a entrada de ar frio de origem polar pelo interior do país.
Mas em meados de julho, uma frente fria conseguiu avançar de forma continental sobre o Brasil espalhando o frio também para áreas do Sul, do Centro-Oeste, do Norte e Sudeste do Brasil. Temperaturas negativas e geada foram observadas no Sul do Brasil.
No dia 14/7/2023 nevou na parte mais elevada da serra catarinense, região de Urubici e São Joaquim
Entre os dias 21 e 28 de julho de 2023 foi observado um dos eventos de onda de calor de 2023, mas que se restringiu às áreas no oeste do Centro-Oeste e do Sul do Brasil.
O Rio Grande do Sul sentiu a influência de 4 ciclones extratropicais durante o mês de julho.
Ciclones próximos do Rio Grande do Sul entre 15 de junho e 15 de setembro de 2023
Agosto
A onda de calor entre os dias 22 e 28 de agosto de 2023 foi completamente atípica, pois ocorreu ainda no inverno. Em um mês que tem como característica marcante o tempo seco em grande parte do Brasil, alguns eventos de chuva volumosa se destacaram. Mais um ciclone extratropical e muita chuva no Rio Grande do Sul também marcaram agosto de 2023.
No dia 18 de agosto de 2023, um ciclone extratropical se formou no mar, desta vez entre o Uruguai e a província de Buenos Aires, colaborando para mais um chuva forte sobre o Rio Grande do Sul
Durante a onda de calor de agosto de 2023, temperaturas na marca dos 40°C foram observadas no Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. A maior temperatura da onda de calor de agosto foi de 41,8°C, em Cuiabá (MT), no dia 23 de agosto. Balsas (MA) registrou 41,3°C, em Porto Nacional (TO) fez 41,2°C e em Itaobim (MG) fez 40,2°C
Mas ao mesmo tempo em que grande parte do país sentia o calor de mais de 40°C, o fim de agosto de 2023 teve temperaturas negativas no Sul do Brasil. Cambará do Sul (RS) registrou -2,7°C, Vacaria (RS), -2,3°C, Bom Jardim da Serra (SC) e General Carneiro (PR), -1,8°C
Palmas, capital do Tocantins, foi um dos locais no país que teve chuva atípica em agosto, que normalmente é muito seco no Tocantins e os eventos de chuva são raros. Mas em 2023 choveu 23,0 mm, pela medição do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O valor ficou muito acima da média histórica (período de 1991 a 2020), que é de 1,3 mm.
Outros eventos de chuva marcantes em agosto de 2023, de acordo com as observações do Inmet:
Rio de Janeiro/Alto da Boa Vista: 284,5 mm (média normal: 150,5 mm)
Vitória (ES): 193,8 mm (média normal: 59,9 mm)
Macapá (AP): 144,1 mm (média normal: 96,3 mm)
Muniz Freire (ES): 90,4 mm (média normal: 23,2 mm)
Brazlândia (DF): 71,8 mm (média normal: 16,3 mm
Setembro
O grande destaque de setembro de 2023 foi a intensa onda de calor que se espalhou pelo país. Mas com o El Niño se organizando cada vez mais, a chuva não deu trégua no Sul do Brasil e grandes volumes de chuva voltaram a ser observados sobre a Região.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Porto Alegre teve o setembro mais chuvoso desde 1916 e o mês mais chuvoso da história. No total, a capital gaúcha acumulou 447,3 mm em setembro de 2023, o triplo da média normal de precipitação para um setembro, que é de 147,8 mm
Muitas áreas do Rio Grande do Sul registraram de 300 mm a 600 mm de chuva em setembro de 2023. Em Caçapava do Sul, o Inmet registrou 680,6 mm.
Chuva extrema no RS em setembro de 2023 (Fonte: Inmet)
Em 24/09/2023, a cidade de São Paulo registrou 36,5°C, a segunda maior temperatura para setembro já observada.
Por causa das ondas de calor de agosto e de setembro, depois de um julho quente, o inverno de 2023 foi considerado um dos mais quentes no Brasil desde 1961, pelos cálculos do Inmet. A maior temperatura máxima registrada foi de 41,8°C em Cuiabá (MT), em 23 de agosto.
Ainda segundo o Inmet, as capitais Cuiabá (MT) e São Paulo (SP) vivenciaram o inverno mais quente dos últimos 63 anos.
O calor de setembro foi excepcional em Manaus, capital do Amazonas. Segundo o Inmet, a maior temperatura em Manaus foi de 39,3°C, nos dias 26 e 27 de setembro. Esta foi a maior temperatura já registrada no mês nos últimos 33 anos e supera os 39,0°C ocorridos em 21/09/2015.
Em Boa Vista, capital de Roraima, a marca dos 40°C foi superada sete vezes em setembro de 2023. A temperatura máxima chegou aos 41,1°C nos dias 27, 29 e 30 de setembro.
Outro destaque de setembro de 2023 foi a densa fumaça de queimadas que pairou por vários dias sobre Manaus. A capital do Amazonas apareceu no top 3 do ranking das cidades mais poluídas do mundo segundo a IQAir, plataforma colaborativa gratuita de informações sobre qualidade do ar em tempo real do mundo.
Outubro
Em outubro de 2023, o El Niño continuou forçando a ocorrência de muita chuva sobre o Sul do Brasil. Porém, o eixo da chuva mais volumosa mudou para o Paraná e Santa Catarina. Choveu mais de 400 mm em locais de Santa Catarina somente na primeira quinzena de outubro. O Paraná teve mais de 600 mm em alguns locais. A chuva muito acima do normal caiu de forma generalizada nos dois estados resultando nos transbordamento de muitos rios, o que deixou cidades literalmente debaixo d´água. No Rio Grande do Sul, a chuva castigou o norte do estado e foram registrados mais de 600 mm em alguns locais durante o mês de outubro.
Alguns volumes extremos de outubro de 2023
Paraná
651,2 mm em Pato Branco (correspondente a um terço da média anual)
609,8 mm em Palmas
600,6 mm em Dois Vizinhos
Santa Catarina
560,4 mm em Joaçaba
540,4 mm em Dionísio Cerqueira
532,4 mm em Caçador
515,6 mm em Indaial
Rio Grande do Sul
672,4 mm em Frederico Westphalen
600,8 mm em Palmeira das Missões
520 mm em Erechim
Em Florianópolis (SC) choveu 419,6 mm, segundo o Inmet, mais que o dobro do normal em outubro/2023. Foi o outubro mais chuvoso em cem anos.
Em São Paulo, o Inmet registrou 356,0 mm (média de 127 mm em outubro) em outubro de 2023, o maior volume de chuva em outubro em 80 anos.
Em outubro de 2023, o Brasil viveu a terceira onda de calor consecutiva e abrangente. Por causa do calorão, o consumo de energia elétrica no Brasil subiu pelo sexto mês consecutivo, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE. Outubro teve uma demanda de 70.047 megawatts médios, volume 6,2% maior do que o registrado no mesmo período de 2022. A alta foi associada ao maior uso de ventiladores e ar-condicionado por causa do calor intenso.
O calor de outubro de 2023 bateu recorde histórico em Cuiabá, com a marca de 44,2°C em 19/10/2023. Foi a maior temperatura já registrada na capital de Mato Grosso desde 1911, quando começaram as medições do Inmet.
Temperaturas acima dos 42°C foram registradas em vários estados:
43,4°C em Porto Murtinho (MS) 17/10/23
43,0°C em Santo Antônio de Leverger (MT) 19/10/23
42,8°C em Rondonópolis (MT) 19/10/23
42,6°C Unaí (MG)
42,6°C em Diamantino (MT) 20/10/23
42,1°C em Itaobim (MG) 25/10/23
Novembro
Outra onda de calor no Brasil, a quarta consecutiva e abrangente, e mais chuva no Sul foram destaques em novembro de 2023. E pela primeira vez, a anomalia da temperatura global alcançou 2,0°C acima da média do período pré-industrial.
A chuva de novembro de 2023 castigou o Sul do Brasil novamente. Mas um dos destaques foi o que ocorreu em Porto Alegre. O grande volume de chuva na bacia hidrográfica do rio Guaíba, fez com que o nível do rio alcançasse uma das maiores marcas já observadas, com 3,46 metros, a maior elevação desde a histórica enchente de 1941. As águas do Guaíba invadiram vários bairros na capital gaúcha.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, choveu 325,1 mm sobre Porto Alegre nos 30 dias de novembro, o triplo da média normal para este mês, que é de aproximadamente 106 mm. Porto Alegre teve o novembro mais chuvoso desde 1961.
Em Curitiba, capital do Paraná, o Simepar registrou 286,4mm, volume que fica entre os cinco maiores do histórico de dados, desde 1961, do Instituto Nacional de Meteorologia. O total de chuva contabilizado pelo Simepar representa pouco mais do que o dobro da média normal de chuva para Curitiba em novembro, que é de aproximadamente 127 mm
O Inmet registrou um acumulado de 409,6 mm na estação meteorológica de São José, na parte continental de Florianópolis. Esse foi o terceiro maior volume de chuva registrado na capital catarinense, em um mês de novembro, desde o início dos anos 1990, abaixo apenas dos 594,7 mm que foram contabilizados em novembro de 1991 e dos 614,9 mm de novembro de 2008
Natal, capital do Rio Grande do Norte, e outros municípios do leste do estado, tiveram um evento de chuva raro. No fim do mês, entre os dias 27 e 28 de novembro, uma Onda de Leste completamente atípica provocou volumes de chuva extremos. Em 24 horas choveu 100 vezes mais do que o normal. Choveu de 100 mm a quase 390 mm e a média para novembro em Natal é de 22 mm. Muitas famílias ficaram desabrigadas por causa deste evento raro de chuva.
Nuvens de tempestade sobre o leste do Rio Grande do Norte, em 27/11/2023
(Imagem GOES 16 - colorização Climatempo)
As fortes áreas de instabilidade que se formaram sobre o Sul do Brasil em novembro provocaram chuva torrencial e também tornados. A defesa civil de Santa Catarina confirmou ao menos 6 tornados durante o mês de novembro. Também foi registrado um tsunami meteorológico no litoral sul catarinense e tornados no Paraná.
Mas a falta de chuva no Espírito Santo, no nordeste de Minas Gerais e no sul da Bahia também foi destaque em novembro de 2023. Em Caravelas (BA) choveu apenas 17,4 mm, sendo que a média para novembro é de 214,4. Em Vitória (ES) choveu 23,1 mm, mas a média para o mês é de 233,6 mm. Em Itamarandiba(MG), o Inmet contabilizou apenas 9,7 mm em novembro, sendo que a média é de 219,6 mm.
Outro destaque de vento forte de novembro foi a frente de rajada que varreu o estado de São Paulo em 3/11/2023. As intensas rajadas de ventos de uma enorme linha de instabilidade que avançou rapidamente neste dia sobre o estado provocou rajadas de vento de 80 a 100 km/h, incluindo a Grande São Paulo. Centenas de árvores caíram na cidade de São Paulo causando danos na rede elétrica. A ventania ocorreu numa sexta-feira e na terça-feira seguinte, áreas da cidade ainda estavam sem energia. O aeroporto de Congonhas, na zona sul da capital paulista, registrou uma rajada de vento de 104 km/h.
As manchas vermelhas representam chuva forte vista pelo radares meteorológicos (Fonte: IPmet/Unesp)
São Paulo registrou 37,7°C nos dias 13 e 14 de novembro de 2023. Foi a segunda maior temperatura na capital paulista, e o maior valor para um dia de novembro, em 80 anos de medições. Esta foi a maior temperatura em São Paulo em 2023. O recorde histórico, desde 1943, é de 37,8°C em 17 de outubro de 2014.
Novembro de 2023 deu ao Brasil um novo recorde histórico de calor. Os 44,8°C registrados em Araçuaí, no norte de Minas Gerais, em 19/11/2023 é agora oficialmente a maior temperatura medida no Brasil pelo Inmet, em mais de 100 anos.
Recorde histórico de calor no Brasil: 44,8°C em Araçuaí, em 19/11/2023
Dezembro
A chuva finalmente começou a dar uma trégua ao Sul do Brasil e os temporais diminuíram. Mesmo assim, o mês terminou com volumes de 200 a 300 mm acumulados no centro, sul e oeste do Rio Grande do Sul, em áreas do centro-oeste e sul de Santa Catarina e de 150 a 250 mm em parte do Paraná.
Não precisou nem terminar o ano com a média de dezembro para que o climatologistas do instituto europeu Corpenicus afirmassem, com enorme confiança, que 2023 seria o ano mais quente já vivido na Terra. O anúncio foi feito na imprensa mundial em 6/12/2023 e a Climatempo também noticiou
Um evento de chuva intensa que marcou dezembro ocorreu em Angra dos Reis, entre os dias 8 e 9 dezembro. Em 24 horas, o Cemaden registrou 206 mm. Mais de 400 pessoas foram afetadas. O mês terminou com acumulados de 200 mm a quase 360 mm de chuva na região de Angra dos Reis.
A áreas de Petrópolis e Teresópolis, na região Serrana do Rio de Janeiro, também tiveram temporais e transtornos em dezembro de 2023. O mês terminou com cerca de 387 mm em Petrópolis/Independência, segundo o Cemaden, e o Inmet registrou quase 232 mm em Teresópolis/Parque Nacional. Em Nova Friburgo/Caledônia choveu cerca de 324 mm.
Ano de 2023 terminou com uma frente fria levando chuva para áreas secas do ES e de MG
O ano de 2023 terminou com uma frente fria avançando pelo Sudeste do Brasil que chegou ao Espírito Santo entre os dias 30 e 31 de dezembro. Esta frente fria levou grandes volumes de chuva para áreas do estado capixaba e do leste/nordeste de Minas Gerais que estavam sofrendo com a falta de chuva. O mês termina com acumulados de 100 a pouco mais de 200 mm em muitas áreas do Espírito Santo, incluindo a Grande Vitória.
E o calor não acabou! O Brasil viveu sua quinta onda de calor consecutiva e abrangente em dezembro de 2023. Desta vez, o calorão voltou a ser sentido também no Sul do Brasil. Esta onda de calor produziu mais calores acima dos 40°C nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Ceará e Piauí. Mas mesmo sem 40°C, o calor foi muito acima do normal no Sul e Sudeste, com temperaturas próximas dos 38°C e até 39°C.
Em São Paulo, no dia 29/12/23, a temperatura chegou aos 34,9°C, a maior temperatura em um dia de dezembro desde 1998.
E o El Niño?
O fenômeno El Niño tem parte da culpa de todo o calor que fez em 2023. Mas não se produz tanto calor assim sem ter por base algo maior, uma condição de aquecimento extremo global, no ar e no mar.
Esse calor será levado para parte do ano de 2024. A atmosfera e o oceano não mudam suas características "na chave ou no clique". Serão meses para suavizar a quentura.
Probabilidade de El Niño/La Niña no decorrer do ano de 2024 : as barras em vermelho indicam o El Niño, as barras cinzas representam a neutralidade e em azul, a probabilidade de La Niña(Fonte: NOAA/CPC)
O mais recente (14/12/23) relatório da NOAA sobre o EL Niño confirmou a expectativa de que este episódio deve chegar o fim no decorrer do outono do Hemisfério Sul, a partir de abril de 2024.