Oferecido por
Nos últimos anos, o planeta experimentou uma série de recordes consecutivos de temperatura, novo relatório do World Resources Institute lança um olhar sobre as mudanças. 2024 está a caminho de ser o ano mais quente já registrado, e a média global de temperatura está se aproximando perigosamente do limite de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Esse é o limiar que os cientistas dizem ser crucial para evitar os impactos mais devastadores das mudanças climáticas, como secas severas, incêndios florestais, ondas de calor e inundações. Mas se as emissões de gases de efeito estufa continuarem aumentando, o mundo pode atingir 3°C de aquecimento até 2100 — e as cidades brasileiras estariam na linha de frente das consequências.
Fonte: GettyImages
3°C de aquecimento: Um cenário de riscos e desigualdades para o Brasil
O impacto de 3°C de aquecimento global seria particularmente severo para o Brasil, com impactos desproporcionais entre regiões e grupos socioeconômicos. Enquanto cidades maiores e mais preparadas, como São Paulo e Rio De Janeiro, poderiam investir em medidas de resiliência, outras cidades menos favorecidas enfrentariam dificuldades ainda maiores.
Ondas de calor: Duração e intensidade sem precedentes
O aumento de temperatura global para 3°C, em comparação com 1,5°C, intensificaria as ondas de calor de forma significativa no Brasil. A média de duração das ondas de calor nas cidades brasileiras passaria de aproximadamente 16 dias para até 25 dias ou mais, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Nordeste. Em algumas cidades, como Brasília e Cuiabá, períodos de calor extremo podem se estender por quase um mês.
Essa mudança não apenas traz riscos à saúde pública — especialmente para idosos, crianças e grupos mais vulneráveis — mas também afeta o cotidiano de milhões de pessoas. Durante essas ondas de calor, a agricultura e a infraestrutura das cidades também são impactadas, com perdas nas colheitas e aumento na demanda de energia elétrica para ar condicionado e refrigeração.
A demanda crescente por refrigeração e o desafio energético
O aumento das temperaturas e a maior frequência de dias extremamente quentes levarão a uma necessidade crescente de refrigeração, pressionando a infraestrutura energética do Brasil. Atualmente, muitas cidades já experimentam picos de demanda por energia durante o verão, mas em um cenário de 3°C de aquecimento global, essa demanda aumentaria consideravelmente.
O maior desafio será garantir que essa necessidade de resfriamento seja atendida de forma sustentável e igualitária. Enquanto famílias de maior renda podem ter acesso a sistemas de ar condicionado, a maioria das pessoas de regiões periféricas e menos desenvolvidas não terá recursos para isso. Essa disparidade agrava a desigualdade social e aumenta os riscos de saúde para populações mais vulneráveis.
Riscos de doenças transmitidas por mosquitos
O aquecimento global para 3°C também traria mudanças drásticas nos padrões de doenças transmitidas por mosquitos, como dengue, zika e chikungunya. Temperaturas mais altas são propícias para a reprodução desses mosquitos, aumentando a incidência dessas doenças em várias cidades brasileiras, especialmente no Norte e Nordeste.
No Rio de Janeiro, por exemplo, o número de dias propícios para a transmissão dessas doenças pode aumentar de 69 para 118 dias por ano, uma alta de 71%. Essa situação coloca em alerta o sistema de saúde e exige medidas preventivas, como campanhas de vacinação e controle de focos de mosquitos.
Cidades litorâneas e o aumento do nível do mar
O Brasil, com sua extensa costa atlântica, enfrenta riscos significativos devido ao aumento do nível do mar. Cidades litorâneas como Recife, Salvador e Florianópolis terão que lidar com inundações frequentes e erosão costeira, afetando infraestruturas como portos, estradas e áreas residenciais.
A diferença entre 1,5°C e 3°C de aquecimento é crítica para determinar o grau de vulnerabilidade dessas cidades, que terão que se adaptar rapidamente para evitar prejuízos econômicos e sociais.
Impactos nas regiões e desigualdades agravadas
Os riscos climáticos não afetam todas as cidades brasileiras da mesma forma. As regiões Norte e Nordeste, com altas temperaturas e infraestrutura mais precária, serão as mais impactadas. O Centro-Oeste, por sua vez, pode enfrentar secas mais frequentes, afetando a produção agrícola e aumentando os riscos de incêndios florestais.
Nas áreas urbanas, a diferença entre bairros ricos e pobres se tornará ainda mais evidente. Os bairros de renda mais baixa, com menos áreas verdes e edifícios menos preparados para suportar o calor, sofrerão com o aumento de temperaturas extremas e a falta de acesso a sistemas de refrigeração.
Ação necessária: Resiliência e adaptação Urbana
Para evitar os cenários mais catastróficos, as cidades brasileiras precisam agir agora. Planos de ação climática, como o implementado recentemente por algumas cidades brasileiras, são cruciais para aumentar a resiliência urbana. Esses planos devem incluir:
- Expansão de áreas verdes: Plantar árvores e criar parques urbanos para resfriar as cidades naturalmente.
- Infraestrutura resiliente: Investir em construções que promovam resfriamento passivo, como o uso de materiais reflexivos, isolamento térmico e ventilação adequada.
- Controle de vetores de doenças: Programas de combate a mosquitos e promoção de saúde pública para evitar a proliferação de doenças tropicais.
- Equidade no acesso a resfriamento: Garantir que todas as populações, independentemente de renda, tenham acesso a medidas de resfriamento, como abrigos Climatizados durante ondas de calor.
A diferença entre 1,5°C e 3°C de aquecimento global é mais do que apenas uma questão de números — é a diferença entre um futuro que ainda é manejável e um que traz riscos severos e desigualdades para as cidades brasileiras. A hora de agir é agora, para garantir que as próximas gerações possam viver em cidades mais resilientes e sustentáveis.