As temperaturas subiram muito nos estados da região Sudeste no fim de semana, mas nesta segunda-feira, 20 de janeiro, o pessoal que estava no litoral viveu um verdadeiro forno. Temperaturas em torno dos 39°C foram observadas em áreas do litoral de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.
Das 10 maiores temperaturas no Brasil medidas pelo Instituto Nacional de Meteorologia nesta segunda-feira, até às 17 horas, a maioria ocorreu em estados do Sudeste e em áreas litorâneas, próximas da Serra do Mar. Isto tem um motivo!
10 maiores temperaturas no Brasil em 20 de janeiro de 2025, até às 17 h
(Este é um ranking provisório e poderá ter alterações de valor e de posicionamento após às 21 horas (Brasília), quando o Instituto Nacional de Meteorologia divulgar novos valores de temperatura máxima para este dia)
38,9°C Niterói (RJ)
38,6°C Alegre (ES)
38,4°C Cambuci (RJ) e Silva Jardim (RJ)
38,3°C Bertioga (SP)
37,6°C Itapoá (SC) e Campos dos Goytacazes (RJ)
37,5°C Antonina (PR), Muriaé (MG), Iguape (SP), Seropédica (RJ)
37,3°C Rio de Janeiro (RJ)
37,2°C Morretes (PR), reserva natural Salto Morato (PR)
37,0°C Duque de Caxias/ Xerém (RJ)
36,8°C Indaial (SC)
De onde saiu tanto calor assim?
A primeira coisa a explicar é que esse grande aumento da temperatura na Região Sudeste do Brasil não tem a ver com a onda de calor que elevou muito a temperatura desde a semana passada em parte da Região Sul e de Mato Grosso do Sul, especialmente nas áreas de fronteira do Brasil com o Paraguai, com Argentina e com o Uruguai. Foi por causa dessa onda de calor que a cidade de Porto Murtinho, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, registrou 42,1°C no dia 17 de janeiro.
O calor do Sudeste neste início de semana é uma combinação de três fatores:
– a diminuição da nebulosidade e da chuva, permitindo que o sol ficasse forte por muitas horas consecutivas;
– ausência de ventos frios de origem polar;
– particularmente nesta segunda-feira, 20 de janeiro, ocorreu o acréscimo de calor por causa dos que os meteorologistas chamam de aquecimento adiabático.
O que é aquecimento adiabático?
O aquecimento adiabático é um processo natural associado com a presença de montanhas. Pode ocorrer em qualquer época do ano.
O aumento de temperatura acontece quando a direção dos ventos força a descida do ar montanha abaixo. Neste trajeto, o ar aquece mais ou menos 1°C a cada 100 metros.
Isto é muito típico no litoral de São Paulo, quando sopra o vento de noroeste, antes da chegada de uma frente fria, por exemplo. O ar que desce a Serra do Mar, impulsionado por este vento de noroeste, vai aquecer cerca de 1°C a cada 100 metros.
Entre a cidade de São Paulo e a Baixada Santista temos quase 800 metros de diferença de altitude. Se a temperatura na região da capital está em torno dos 30°C, com esse vento noroeste empurrando o ar montanha abaixo e se aquecendo mais ou menos 1°C a cada 100 m, o resultado é que lá no litoral, a temperatura vai estar em torno dos 38°C.
Curiosidade
Na Física, dizemos que um corpo ou um sistema tem uma transformação termodinâmica adiabática quando, durante o processo, não ocorre troca de calor entre este corpo ou sistema e o meio exterior.
O aquecimento adiabático natural é um dos fatores que alimentam grandes incêndios em algumas regiões do planeta.
Incêndios que ocorrem no noroeste/oeste da Argentina são por causa do vento Zonda, que é um vento adiabático gerado na cordilheira dos Andes.
O vento de Sant’ana, que atiça os incêndios na Califórnia, também é um exemplo de aquecimento por processo adiabático.
Aquecimento adiabático e frentes frias
Esse tipo de aquecimento adiabático é típico em situações pré-frontais (horas antes da chegada de uma frente fria), no litoral sul de Santa Catarina, no Vale do Itajaí, no litoral do Paraná, litoral norte do Rio Grande do Sul, no litoral sul do Rio de Janeiro e também na região da cidade do Rio de Janeiro por causa da presença dos maciços.
Outra região no Brasil que sente o aquecimento adiabático com frequência é a de Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul.
Na situação pré-frontal, o vento das direções norte/noroeste predominam e onde há a presença de montanhas, pode ocorrer o aquecimento adiabático.
A presença de ciclones na costa das regiões Sul e Sudeste também podem estimular os ventos de norte/noroeste.
Nesta segunda-feira, 20 de janeiro, o vento das direções norte/noroeste se intensificou e predominou em quase todo o Sul e Sudeste por causa da formação de uma frente fria associada a um ciclone extratropical no Sul do Brasil.