Agora é oficial: o oceano Pacífico Equatorial está no modo La Niña. O anúncio foi feito pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), nesta quinta-feira, 9 de janeiro de 2025, no boletim de atualização mensal do fenômeno ENSO (El Niño/Southern Oscillation – El Niño/Oscilação Sul).
O que é o La Niña?
O La Niña é conhecido como a “fase fria” do El Niño. Os dois fenômenos envolvem anomalias de temperatura da água do mar na porção central e leste do oceano Pacífico Equatorial, na costa do Peru. O El Niño é o aquecimento acima da média nesta grande região oceânica e o La Niña é o resfriamento.
Mas não é um resfriamento e ou aquecimento qualquer. Para se chegar a conclusão de que o Pacífico Equatorial está no modo El Niño ou La Niña, vários critérios técnicos estabelecidos pela comunidade científica precisam ser satisfeitos ao mesmo tempo.
Quando a temperatura da água do mar na porção central do Pacífico Equatorial fica pelo menos 0,5°C acima da média de referência, durante vários meses consecutivos, o El Niño está ativo. Quando a temperatura da água do mar nesta região fica pelo menos 0,5°C abaixo da média de referência, durante vários meses consecutivos, o La Niña está vigorando.
El Niño e La Niña são fenômenos de grande escala, pois as mudanças de temperatura que ocorrem na porção central e leste do oceano Pacifico Equatorial têm o poder de alterar a circulação dos ventos e a pressão atmosférica numa grande área global, que causam alterações nos padrões de chuva e de temperatura em muitas regiões do planeta.
Efeitos do La Niña no Brasil
De forma geral, o La Niña induz um aumento das precipitações no Norte e no Nordeste do Brasil e deixa parte da Região Sul mais seca. A redução das precipitações ocorre especialmente no Rio Grande do Sul.
Um efeito muito importante do La Niña é de facilitar o deslocamento das frentes frias pela costa do Sul e do Sudeste. A passagem de várias frentes frias ajuda a organizar os corredores de umidade entre o Norte e o Sudeste do país, facilitando a formação da ZCAS – Zona de Convergência do Atlântico Sul.
A chuva forte e volumosa da ZCAS se prolonga por vários dias consecutivos, sobre as mesmas regiões, o que gera muitos transtornos para a população como alagamentos, transbordamentos de rios, encharcamento do solo, deslizamentos. É um período de baixa insolação que pode prejudicar o desenvolvimento agrícola.
Mas é também a chuva da ZCAS que recupera os mananciais e as nascentes para o abastecimento de água para as populações, enche os rios e os reservatórios para geração de energia.
Verão 2025 com La Niña
Este episódio do La Niña se estabeleceu tardiamente e vai influenciar o verão 2025 no Brasil. Embora a confirmação oficial só tenha vindo agora, a tendência de resfriamento do centro-leste do Pacífico Equatorial (o chamado viés frio ou viés de La Niña) já vem ocorrendo há vários meses e refletindo no clima do Brasil. Os corredores de umidade mais frequentes (o que facilita a ocorrência de chuva em grandes áreas pelo interior do país) é um dos efeitos deste resfriamento.
O que muda no clima nos próximos meses? Este La Niña será forte ou fraco? Até quando vai o La Niña?Estas e outras questões são respondidas pelo meteorologista Vinícius Lucyrio, da equipe de previsão climática da Climatempo.
O resfriamento no Pacífico Equatorial, na costa do Peru aumentou ou se manteve?
VL– Aumentou nas últimas 4 semanas, baixando do limiar de La Niña, que é de -0,5°C em relação à média climatológica.
O que mudou no último mês para que o La Niña finalmente se configurasse?
VL – Houve maior resfriamento das regiões do Niño 3.4 e 4, porções centrais e oeste, e mais determinantes na mudança de alguns padrões globais de vento (mais chuva na Indonésia e norte da Austrália, por exemplo). Nas porções a leste, o resfriamento não aumentou, e oscila mais de uma semana para outra.
O que faltava para bater o martelo em La Niña agora?
VL – A confirmação da NOAA ou simplesmente 3 trimestres móveis consecutivos com a temperatura abaixo de -0,5°C de anomalia,
na região chamada de Niño 3.4.
Este novo episódio do La Niña será forte ou fraco?
VL – Vamos manter a ideia de um evento fraco, como já vinha sendo falado pela Climatempo desde a primavera de 2024. Se o La Niña efetivamente se formasse, seria fraco.
Por quanto tempo o padrão La Niña deve persistir?
VL – Até meados e final do verão. Em seguida passaremos para uma condição de neutralidade, ainda com viés frio, mas em aquecimento bem gradual. Não há expectativa de mudança rápida de fase como em 2023 e 2024.
O que muda no clima no Brasil no verão?
VL – Do que temos agora, não muito, pois o resfriamento já ocorre desde o inverno e o padrão de circulação já é condizente com La Niña desde o fim de setembro e início de outubro. Teremos mais frentes passando na costa do Sul e do Sudeste, maior propensão a formação de corredores de umidade, maiores chances de formação de sistemas de baixa pressão atmosférica subtropicais no oceano, na altura do Sudeste.
Também teremos uma maior propensão a chuvas volumosas no Nordeste durante a quadra chuvosa, maiores volumes de chuva e maior regularidade de precipitações sobre a Amazônia. Por outro lado, o risco de estiagens no Rio Grande do Sul será maior.
Vinícius Lucyrio observa ainda que, além do La Niña estabelecido, é preciso acompanhar constantemente as mudanças nos padrões de escala mensal e semanal, como a temperatura no Atlântico Tropical, a OMJ (Oscilação de Madden-Julian) e AAO (Oscilação Antártica), que modulam a chuva e a nebulosidade sobre o Brasil, o que a interfere na temperatura.