O Relatório da Comissão Global sobre Economia da Água (GCEW, na sigla em inglês), lançado em outubro deste ano, mostrou que a crise hídrica deve afetar mais da metade da produção mundial de alimentos até 2050. O impacto representa, em média, perda de 8% do PIB mundial e, em países de baixa renda, os prejuízos podem chegar a perda de 15% do PIB. No Brasil, a oscilação entre extensos períodos de seca e chuvas intensas, principalmente nas estações mais quentes do ano, é a responsável por crises de abastecimento e oscilações no preço, principalmente de hortaliças, que contam com uma cadeia produtiva mais frágil e têm um aumento de demanda próximo de 30% no período..
No Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), por exemplo, uma caixa de alface crespa que custava R$ 12 no final de outubro, já custa em torno de R$ 40 esta semana. Um exemplo clássico de crise de abastecimento no Brasil é a rúcula. Considerada uma das maçarias mais populares e amplamente presente nas saladas e lares dos brasileiros, a rúcula é uma das folhosas mais frágeis e sensíveis às mudanças de temperaturas e excessos de chuvas, onde há muitas perdas ao longo do cultivo.
Para contornar esse cenário, os produtores apostam em soluções como hidroponia e cultivo protegido por estufas. Localizada em São Roque, no interior de São Paulo, a agroindústria Verdureira utiliza dois tipos de hidroponia a NFT (Nutrient film Technique), onde as raízes recebem água em perfis hidropônicos, e a DWC (Deep Water Culture ou floating), em que as raízes ficam completamente imersas e as plantas flutuam em piscinas.
“No caso, da rúcula, para a semeadura, por exemplo, passamos a reutilizar a fibra de coco, e a técnica do NFT ao invés do floating. Com esse manejo, conseguimos duplicar a oferta de rúcula de forma mais produtiva e sustentável”, explica Marco Wunderlich, Diretor de Operações da agroindústria.
“Em verões passados, exatamente quando os consumidores e o varejo mais demandavam por saladas, mais frágil era o cultivo. Com as inovações das técnicas de produção, reduzimos de forma relevante a dependência do clima e fortalecemos a cadeia, com mais hortaliças disponíveis e mais qualidade no produto final, garantindo o abastecimento dos supermercados e hortifrutis parceiros”, reforça Ari Rocha, CEO.
Como funciona o cultivo protegido?
O cultivo protegido é uma técnica muito utilizada para reduzir o impacto das intempéries climáticas e obter uma produção de alta qualidade. O principal objetivo é controlar a área ao redor dos cultivares, seja parcial ou totalmente, protegendo a colheita, especialmente, de temperaturas muito altas ou baixas, tempestades e granizos. Além disso, também serve como proteção contra animais e insetos que poderiam danificar as plantas, criando barreiras físicas.
Há várias formas de criar essas barreiras e proteger a produção, desde túneis plásticos à cobertura do solo e o uso de estufas.
“Compostas de filmes agrícolas, as estufas permitem a entrada de luz, filtrando a radiação ultravioleta, mas com controle do calor e da umidade, que também são ajustados a partir de outras soluções como a presença de exaustores. Como é um ambiente fechado, evita a entrada de sujeiras e insetos em geral. Dessa forma, também reduzimos a proliferação de pragas e fungos causadores de doenças nas plantas”, explica Wunderlich.