O primeiro trimestre de 2025 foi o segundo mais quente já registrado no planeta, prolongando uma sequência histórica de calor excepcional que começou em julho de 2023. A análise foi feita pelo site Carbon Brief com base em dados de cinco centros climáticos globais: NASA, NOAA, Met Office Hadley Centre/UEA, Berkeley Earth e Copernicus/ECMWF. Apesar da presença de uma fraca La Niña, fenômeno natural que tende a esfriar as temperaturas globais, o aquecimento atmosférico manteve-se extremamente elevado.
Início de ano extremamente quente, apesar da La Niña
Os dados mostram que entre janeiro e março de 2025, a temperatura média global ficou apenas 0,035°C abaixo do recorde registrado no primeiro trimestre de 2024, ano que foi fortemente influenciado por um evento de El Niño. Historicamente, a presença de uma La Niña, como a observada nos dois primeiros meses de 2025, estaria associada a um leve resfriamento das temperaturas médias globais. No entanto, o aquecimento persistente indica que os forçantes climáticos associados ao aumento das concentrações de gases de efeito estufa e à resposta lenta do sistema climático global estão se sobrepondo às variações naturais de curto prazo.
Em termos mensais, janeiro de 2025 foi o janeiro mais quente da história, fevereiro ocupou a terceira posição e março empatou com março de 2016 como o segundo mais quente já registrado. Essa sequência reforça a tendência de que a variabilidade natural, como o ENSO (El Niño-Oscilação Sul), está perdendo peso relativo frente ao aquecimento induzido pelas atividades humanas.

Figura 1- Temperaturas de cada mês de 1940 a 2025, a partir do conjunto agregado de registros de temperatura da OMM. As anomalias são plotadas em relação à média do período de 1850-1900. Gráfico por Carbon Brief.
2025 caminha para ser um dos três anos mais quentes já registrados
Com base nos padrões históricos entre a temperatura do primeiro trimestre e o resultado anual, o Carbon Brief projeta que 2025 tem altíssimas chances de terminar como um dos três anos mais quentes da história registrada. Essa estimativa considera não apenas os dados observados até março, mas também o comportamento provável do ENSO e a tendência climática de longo prazo.
A análise sugere que, embora seja muito improvável que 2025 ultrapasse 2024 como o ano mais quente absoluto, a diferença será pequena. Outros estudos independentes, como o da Berkeley Earth, atribuem cerca de 34% de chance de 2025 se tornar o ano mais quente já registrado, sinalizando que pequenas flutuações no restante do ano podem fazer a diferença. De toda forma, o mais provável é que 2025 reforce a posição dos últimos anos como o novo normal climático: mais quente, mais extremo e mais imprevisível.
Recordes também no gelo marinho do Ártico e da Antártica
O impacto do aquecimento global não se refletiu apenas nas temperaturas atmosféricas, mas também no estado dos polos. Entre janeiro e março de 2025, a extensão do gelo marinho do Ártico ficou em níveis recordes para praticamente todos os dias do trimestre, registrando o menor pico de inverno já observado no final de março. A perda de gelo no inverno, que historicamente é mais estável devido às temperaturas muito baixas, mostra que o Ártico está sofrendo mudanças estruturais, com implicações diretas na circulação atmosférica e na estabilidade do clima global.
Na Antártica, o início do ano foi inicialmente dentro da faixa histórica (1979-2010), mas a extensão do gelo marinho colapsou no final de fevereiro, empatando com o segundo menor valor mínimo já registrado. Embora tenha havido uma recuperação parcial em abril, a situação permanece crítica. As alterações na dinâmica do gelo antártico podem afetar a circulação oceânica global, contribuindo para a elevação do nível do mar e alterando padrões climáticos de longo alcance.

Figura 2- Extensão diária do gelo marinho no Ártico e na Antártica, segundo o Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos EUA (NSIDC). As linhas em negrito mostram os valores diários de 2025, a área sombreada indica a faixa de duas vezes o desvio padrão dos valores históricos entre 1979 e 2010. As linhas pretas tracejadas indicam os recordes mínimos de cada polo. Gráfico por Carbon Brief.
O que esperar para os próximos meses
A La Niña que influenciou o início de 2025 está se dissipando, e a maior parte dos modelos climáticos aponta para a manutenção de condições neutras do ENSO nos próximos meses. No entanto, a previsão climática nesta época do ano é especialmente incerta devido à chamada “barreira de previsibilidade da primavera”, fenômeno que dificulta a projeção da evolução das condições no Pacífico equatorial.
A continuidade do calor extremo, mesmo sem a presença de um El Niño ativo, representa um alerta claro sobre a força do aquecimento global em curso. As temperaturas anômalas nos oceanos, combinadas ao enfraquecimento de padrões naturais de resfriamento, indicam que 2025 pode marcar mais um capítulo importante no novo regime climático do planeta: mais quente, mais instável e cada vez mais distante das condições que predominaram durante o século XX.