“Nossa recomendação é fechar todas as janelas e portas da casa e evitar atividades ao ar livre, evitar sair ao ar livre. Dentro da casa, sugerimos colocar baldes com água e panos molhados para umidificar o ar. Se tiver que sair, use sempre máscara. Aquela máscara N95, muito usada na pandemia, é mais adequada”, orienta a bióloga Camila Lorenz.
Plumas de poluição
Os habitantes do Pantanal são os mais afetados pelos incêndios, mas não os únicos, porque a fumaça se desloca para outros locais, por vezes muito distantes. São as chamadas plumas de poluição.
No fim de setembro de 2024, a fumaça oriunda dos incêndios principalmente no Pantanal, Amazônia, Cerrado e regiões da Bolívia alcançou mais de 80% do território brasileiro, cerca de 7 milhões de quilômetros quadrados, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A fumaça das queimadas é levada para outras regiões pelos chamados rios voadores da Amazônia. Esses canais de ar, que geralmente distribuem umidade para o resto do país, durante a estação seca crescentemente carregam fumaça. Em setembro, ao longo do caminho, focos locais de fogo, notadamente no interior do estado de São Paulo, alimentaram os rios voadores com ainda mais fumaça. Na região metropolitana de São Paulo, uma área industrial e com uma frota de veículos imensa, a pluma bloqueou a dispersão dos poluentes e criou um cenário desolador no fim do mês.
“Se não tem vento, a pluma fica estacionada durante vários dias. Em setembro, durante uma semana inteira, você olhava para cima e não dava para ver o céu. Tinha uma névoa estranha”, recorda Camila Lorenz.
“Essas plumas de poluição chegam e ficam estacionadas até ter uma corrente de vento que as dissipem, ou até ter uma chuva”.
Várias outras cidades brasileiras enfrentaram o mesmo problema. Em Belo Horizonte, em Minas Gerais, a situação foi agravada por um período de estiagem de mais de cinco meses. Durante vários dias em setembro, a pluma de poluição pairou sobre a cidade e um grande número de moradores relatou episódios de irritação das vias respiratórias e olhos.
“ Em São Paulo, houve um aumento da procura por atendimento nas unidades básicas de saúde”, relata Camila Lorenz, que trabalha na Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
A bióloga ressalta que a maior preocupação é com o fato de os milhões de habitantes das grandes cidades brasileiras inalarem cada vez mais material particulado fino. Os moradores dos grandes centros urbanos já eram afetados pelo material particulado fino proveniente dos veículos automotores e indústrias, ao que agora se soma o trazido pelas plumas de poluição.
O início da estação úmida a partir de outubro gradualmente dissipou a fumaça que cobria quase todo o território nacional. Mas a bióloga alerta para o fenômeno da chuva ácida, que aconteceu em 2024 em várias localidades, inclusive na região metropolitana de São Paulo. A poluição do ar aumenta a concentração de dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio no ar. Quando a chuva “lava” o ar poluído, esses componentes reagem com a água, oxigênio e outros compostos químicos e formam os ácidos sulfúrico e nítrico. O resultado é que água da chuva se torna mais ácida.
A chuva ácida afeta a fauna e a flora, com prejuízos para a biodiversidade, e contamina os corpos d’água e o solo, o que resulta em perda da produtividade agrícola. Nos centros urbanos, a consequência mais visível da ação da chuva ácida é a corrosão de monumentos feitos de metais, mas esta está longe de ser a mais grave.
“A chuva ácida é super prejudicial, porque ela carrega material particulado, inclusive o fino. Quando ela cai, pode haver um aumento de internações hospitalares, sem falar no risco principal, que é o desenvolvimento de doenças graves no longo prazo”, alerta a bióloga.