Apesar de o Brasil ser um dos grandes produtores globais de alimentos, bioenergia e fibras, a maior parte de sua produção agrícola é baseada em sistemas de sequeiro, ou seja, dependente das chuvas. De acordo com as atuais estatísticas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a área brasileira irrigada corresponde a apenas 2,6% da área irrigada global, apesar de termos cerca de 12% da água superficial e as maiores reservas de água subterrânea (aquíferos) do planeta.
“A área total irrigada do Brasil, de cerca de 9,2 milhões de hectares – incluídos todos os sistemas de irrigação como o uso de gotejamento, inundação e aspersão convencional, por exemplo – é menor que as áreas irrigadas do Irã e Paquistão, três vezes menores que a dos Estados Unidos e oito vezes menor que as áreas irrigadas da China e Índia”, explica Daniel Guimarães, pesquisador da área de agrometeorologia, da Embrapa Milho e Sorgo (MG).
Vantagens no uso da irrigação
As principais vantagens do uso da irrigação, segundo ele, estão relacionadas ao aumento da produtividade por área (entre duas e três vezes em relação aos cultivos não irrigados), qualidade e estabilidade da produção, produção na entressafra, além da redução na pressão para expandir a fronteira agrícola.
Já a desvantagem, está no grande consumo de água dos mananciais. A maioria dos aquíferos está em processo de depleção, em que a recarga é menor que o volume retirado. “O rebaixamento do nível de água dos aquíferos traz grandes desafios para a produção de alimentos no futuro associados à menor oferta de água em longo prazo, maiores custos de bombeamento, redução nas vazões das águas superficiais e tendência de salinização das águas subterrâneas”, alerta.
Além de Guimarães, Elena Landau, pesquisadora em Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto, concordam que os eventos climáticos extremos, como estiagens prolongadas, ondas de calor e excesso de chuvas, têm impactado de forma negativa a produção agrícola de sequeiro no Brasil, além de provocar abalos no mercado interno e na pauta das exportações.
“Essas volatilidades inerentes à produção de sequeiro têm refletido na tendência de crescimento da agricultura irrigada no Brasil”, completa o pesquisador.
Fernando Braz Tangerino é professor e engenheiro agrônomo no campus da Unesp em Ilha Solteira, no interior paulista. É um especialista em agricultura irrigada e se depara com muitas dúvidas sobre o manejo da irrigação por meio de pivô central.
Tangerino explica que atualmente, o manejo da irrigação parte do princípio que o solo é um reservatório com um tamanho e capacidade de água disponível. A diferença está na variável entre umidade na capacidade de campo e no ponto de murcha permanente multiplicado pela profundidade. Mas, como obter essa variável?
De acordo com o professor, é necessário obter uma amostra do solo de forma precisa e levar ao laboratório para uma análise afim de que se descubra a curva de retenção de água no solo. Os dados irão trazer os valores de umidade volumétrica correspondente a capacidade do campo e ponto de murcha permanente. Um número menos o outro multiplicado pela profundidade efetiva do sistema radicular se chega ao tamanho do reservatório. Ouça aqui o material completo e mais dicas do Professor Tangerino.