A Zona de Convergência do Atlântico Sul, ou na forma abreviada, ZCAS (pronuncia-se zacas) é caracterizada por uma larga e prolongada zona de convergência de umidade sobre o Brasil, que gera grandes áreas de chuva sobre parte do país, por vários dias consecutivos.
A ZCAS é responsável por um período prolongado de chuva frequente e volumosa sobre parte das Regiões Norte, Centro-Oeste, Sudeste e até em parte do Nordeste. A influência sobre estados da Região Sul é pouco usual, mas pode ocorrer.
Em muitas áreas destas Regiões, o elevado volume de chuva produzido durante um episódio da ZCAS pode representar grande parte da chuva do trimestre mais chuvoso do ano.
Quando a ZCAS se forma, uma extensa faixa de nuvens carregadas persiste sobre o Brasil por vários dias consecutivos, cruzando o país sobre parte da Região Norte, do Centro-Oeste e do Sudeste ou até do Nordeste.
A imagem abaixo captada pelo satélite GOES mostra uma típica nebulosidade de ZCAS sobre o Brasil. Repare na extensa área de nuvens (manchas azuis, verdes, brancas e amareladas) que corta o Brasil sobre os estados do Centro-Oeste e do Sudeste e que se prolonga pelo oceano, na costa da Região Sudeste.
Como se forma a ZCAS?
A Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) é uma larga e prolongada zona de convergência de umidade sobre o Brasil, resultado da interação da circulação de ventos de vários sistemas meteorológicos que atuam ao mesmo tempo:
- frente fria semi-estacionária na costa do Sudeste
- Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) no Nordeste, sistema de baixa pressão atmosférica (circulação ciclônica, horária) que se forma em torno de 10 km de altitude
- a Alta da Bolívia, grande sistema de alta pressão atmosférica (circulação anticiclônica, anti-horária) que se estabelece em torno de 10 km de altitude
- presença de um cavado atmosférico (ondulação na circulação de ventos no sentido horário) em médios níveis da atmosfera, em torno de 5 km de altitude
Período de atuação
Um dos critérios técnicos para determinação de uma Zona de Convergência do Atlântico Sul é o tempo de persistência das áreas de chuva frequente sobre uma mesma região.
As áreas de instabilidade devem persistir por um período mínimo de 4 dias.
Posição da instabilidade da ZCAS
A ZCAS é uma conexão entre frentes frias no oceano e extensas áreas de instabilidade sobre o interior do Brasil. Mas a posição das áreas com chuva mais volumosa e persistente não é a mesma de um ano para outro. A atuação da instabilidade da ZCAS pode variar sobre o país, não ocorre sempre sobre as mesmas regiões.
A extensa faixa de instabilidade sobre o interior do Brasil pode se formar numa posição mediana (posição 1) sobre o Sudeste e o Centro-Oeste. Nesta posição, em geral, a chuva seja bem distribuída por praticamente todas as áreas destas Regiões, atingindo também alguns estados da Região Norte, como o Amazonas, Rondônia e Acre.
Quando o eixo da ZCAS se posiciona mais ao norte (posição 2), a chuva persistente cai preferencialmente sobre o Espírito Santo, sobre o centro-norte de Minas Gerais, parte da Bahia, Tocantins, parte do Pará, sul do Amazonas, norte de Goiás, Distrito Federal e no centro-norte e leste de Mato Grosso. Nesta situação, a chuva é menos frequente no centro-sul e oeste de São Paulo e em Mato Grosso do Sul.
Na posição 3, a região de maior instabilidade da ZCAS fica mais ao sul de sua posição média normal, a chuva mais frequente e volumosa ocorre sobre São Paulo, no centro-sul do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, sul de Goiás, de Mato Grosso, em Mato Grosso do Sul e também atinge o Paraná.
Em algumas situações excepcionais, a chuva da ZCAS pode avançar mais sobre a Região Sul do Brasil atingindo até Santa Catarina e parte do Rio Grande do Sul.
El Niño e La Niña interferem na ZCAS
Fenômenos de escala global como El Niño e La Niña interferem na formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul. As mudanças na circulação dos ventos em diversos níveis da atmosfera causadas pelo aquecimento (El Niño) ou pelo resfriamento (La Niña) anormal das águas da porção central e leste do Pacífico Equatorial, na costa do Peru, dificultam ou facilitam a organização da ZCAS sobre o Brasil.
Em geral, o El Niño dificulta a formação da ZCAS. O El Niño dificulta a organização da Alta da Bolívia, que é uma circulação de ventos básica para formação de uma ZCAS.
O El Niño dificulta, mas não impede a organização da ZCAS. Um exemplo recente foi a formação do fenômeno em janeiro de 2024, quando um forte El Niño influenciou o clima global.
O La Niña, em geral, atua a favor da organização da ZCAS. O La Niña facilita a formação dos corredores de umidade entre o Norte e o Sudeste do Brasil, que podem se organizar como uma ZCAS.
A situação de neutralidade no Pacífico Equatorial centro-leste, isto é, sem El Niño e sem La Niña, também favorece a formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul.